quinta-feira, 5 de abril de 2012

MODELO SOCIAL, MODELO DE DESIGUALDADE

Tenho para mim que o modelo social não está necessariamente falido, se numa sociedade com baixos índices de desigualdade.
A falência actual das sociedades ocidentais não é do modelo social mas do modelo que permitiu um aumento explosivo da desigualdade social.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

OS LIMITES À PRIVATIZAÇÃO

A TEORIA ERRADA DE GASPAR

«O ministro confessou, de resto, ter discutido a questão durante a sua recente visita aos Estados Unidos com o presidente da Reserva Federal norte-americana, Ben Bernanke, e que se terá apercebido que esta evolução durante a crise tem sido diferente da esperada em teoria.»

terça-feira, 3 de abril de 2012

CARTA ABERTA A PETER WEISS

«Peter Weiss, um dos chefes de missão da troika que acompanha Portugal, apresentou esta terça-feira de manhã em conferência de imprensa as conclusões da terceira revisão do programa e admitiu estar a ter algumas «dificuldades em interpretar este aumento» do desemprego que, segundo a medição do Eurostat, atingiu os 15% em fevereiro.

O responsável admite que podem existir fatores que não estão a ser devidamente levados em conta, devido a alterações na série das estatísticas ou a ajustamentos sazonais, e pondera a existência de uma corrida aos centros de emprego antes da alteração prevista nas regras do subsídio de desemprego.

«Pode estar a haver uma antecipação de despedimentos, devido à redução prevista na duração do subsídio de desemprego. Se for o caso, seria normal assistirmos a um aumento mais forte nos primeiros meses, que pode depois ser compensado com um abrandamento nos meses seguintes».

Caro Peter Weiss.
Não se exigia à Troika não perceber a especificidade de Portugal, mas a quem tutela o governo de Portugal ou em última instância quem tutela a pasta das finanças e da economia.
Só que algumas das pastas mais importantes deste governo foram dadas a quem expatriado vê Portugal pelos olhos da sua terra de adopção, seja ela o Canadá seja ela Frankfurt ou Bruxelas.

O povo Português na sua quase generalidade, e as empresas Portuguesas, já estavam  no limiar da sustentabilidade (ler pobreza) e da exaustão pela falta de acesso a capitais da banca que sempre colocou à frente os interesses do não transaccionável e dos negócios de acções moeda. 

Aguentava o estado ajustamento por via da diminuição de despesa e da eventual contracção de 200.000 empregos públicos, não aguentava a economia privada - a acrescer ao que infra será exposto - o complemento de carga fiscal que a Espanha mais avisada tenta evitar.
 Mas, como sempre em país de democracia parcial, vozes de povo (mesmo com experiência de economia de empresa ou de independentes da administração pública, sem lealdades conhecidas,  não chega ao céu dos recém licenciados dos partidos sem experiência de vida - que não a do partido).

O governo Português actual, levado pela paixão quis ser mais austero e bom aluno que a Troika. E toca de não diminuir despesa que era gordura, porque é difícil e afecta o sistema que os alimenta, mas de agravar os impostos e a parafiscalidade (hoje é difícil dar um passo em Portugal sem se ter de colocar uma moeda em qualquer mealheiro. O sistema fiscal, por outro lado, lembra um sistema que se aproxima mais do esclavagismo que até do feudal das corveias e da senhoriagem). 

E com o sistema político que temos, de privilégio dos partidos políticos sobre os cidadãos (um estado dentro de um estado), com um sistema económico desprovido de concorrência real (tomado pelas grandes corporações com poder de mercado e com uns inúteis reguladores que transitam das empresas para a regulação de uma economia de monopólio e oligopólio de uns poucos sobre o estado) e com um país com um ordenado médio da dimensão do anterior ordenado mínimo da Grécia (mas com um custo de vida superior ao da Alemanha), o resultado foi a queda em dominó do tecido das PME's.

Temos assim um país estranho onde as grandes empresas das grandes rendas continuam a aumentar lucros, enquanto denominadas empresas de regime sempre fidelizadas aos partidos políticos de que são reserva de emprego na alternância e as pequenas que sustentavam milhões de empregos de agentes económicos, que "morrem" varridos a penhoras e falta de crédito (até à roupa que muitos tem vestida, sem possibilidade de se levantarem e de terem uma segunda oportunidade).

O erro é, assim, um erro de paralaxe, de pensar que as sociedades são todas iguais!

(este post, parte do princípio que as afirmações de Peter Weiss, não foram descontextualizadas, o que como sabemos bem, nem sempre - ou quase sempre - acontece).


 

RUI TAVARES E A SOCIEDADE DE ANTIGO REGIME



E não, não é preciso ser-se um adepto do Bloco de esquerda ou da esquerda radical ou de qualquer rótulo ideológico dos pobres de espírito da política.

AJUSTAMENTO NOTÁVEL A TODOS OS NÍVEIS: O DO DESEMPREGO, O DO CRESCIMENTO, O DA EMIGRAÇÃO, O DA MISÉRIA...

«A Comissão apresentou hoje um relatório sobre a terceira revisão do programa da 'troika', onde descreve o ajustamento orçamental português entre 2011 e 2012 como “notável a todos os níveis”.»
De facto este relatório demonstra como tudo é relativo dependendo do olhar e do local onde se posiciona o observador.
É que a notabilidade a todos os níveis engloba o desemprego, o crescimento, a miséria e empobrecimento, a emigração ou os credores, os especuladores, os.. esquecendo-se que a sua notabilidade até podia ser maior se se esquecesse que este espaço a quem chamam Portugal é um território com gente dentro ou que teria havido outras alternativas chamadas tempo de diluição das gorduras que não matassem tecidos bons.

Notável a todos os níveis Europeus, diria eu, o da solidariedade, o da lealdade comunitária, o da democraticidade, o da subsidiariedade...

RENDAS EXCESSIVAS. E A ESTRATÉGIA PARA AS COMBATER, PÁ?

«Estratégia para combater "rendas excessivas" na energia é insuficiente e pouco clara».

Não, não é nenhuma alma penada que o diz.
É a UE através da Comissão!

OS DONOS DAS NOTÍCIAS...COM DEFICIT

«China cresceu 8,4% num só trimestre.
PIB abranda em relação ao final de 2011, mas está acima da meta para conjunto do ano de 2012».
Quando vi esta notícia com dois parágrafos contraditórios tive que tomar o sentido pelo previsível. Um crescimento a rondar os 32% ANUALIZADO seria o de um país tomado por um tsunami de empreendedorismo onde restaria pouca terra a ser remexida.
A realidade é que é extremamente injusto deitar todo o odioso para a chamada classe política, quando há uma classe cada vez mais proletarizada e infeliz (pelo que é explorada, manipulada para a manipulação e pelo que revela de impreparada) dos doninhos da notícia - doninhos, porque os donos é outra coisa!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A EUROPA CAPTURADA PELA EUROPA DE CIMA?

«EUROPA CAPTURADA

"é tempo de parar de ouvir o que os bancos dizem e de começar a focar-nos no que eles fazem. Temos de reavaliar a economia política distorcida do sector financeiro antes que o seu excessivo poder imponha custos ainda maiores sobre toda a gente"

Assim termina o artigo - Captured Europe - publicado no Project Sindicate , e  traduzido no Negócios On line.

Os autores, Daron Acemoglu e Simon Johnson,  professores no MIT, são peremptórios nas conclusões: A Europa encontra-se capturada pela banca e essa captura criou e mantem as circunstâncias que levaram às situações dramáticas em que se encontram alguns estados membros da União Europeia. Vale a pena ler o artigo original no site do Project Sindicate sobretudo pelos comentários que está a suscitar.

Venho há muito tempo, quanto ao essencial da questão, a escrever o mesmo neste caderno de apontamentos: ou se mudam as circunstâncias que permitiram, e continuam a permitir, à banca actuar exclusivamente em função dos interesses protegidos (moral hazard) dos banqueiros e dos especuladores, ou o desequilíbrio congénito dos mercados financeiros acabará sempre fazer implodir uma parte ou a totalidade do sistema.

Mas o artigo é sobretudo pertinente neste momento porque, perante a implosão, surge a questão que em Portugal se tornou obsessiva a partir da altura em que o governo adoptou o jogo do faz-de-conta com o  beneplácito da troica: vamos precisar de reestruturar a dívida sim senhor mas por enquanto não queremos que se saiba.

Afirmam Daron Acemoglu e Simon Johnson: 

"A elite política da Europa – as pessoas que lançam as cartas a nível nacional e da Zona Euro – está em sérios apuros. A sua gestão levou a região para uma crise profunda, traindo todas as grandiosas promessas de unidade e prosperidade referidas aquando da criação do euro. A união monetária pode acabar por sobreviver mas, para milhões de pessoas, o euro já falhou nas suas missões de sustentar o crescimento e de assegurar a estabilidade. Como é que isto aconteceu?

(...)
Há uma maneira simples de lidar com o excesso de dívida: reduzir os pagamentos através de uma reestruturação da dívida. Muitas empresas conseguem renegociar as condições de financiamento com os seus credores – normalmente, através da extensão das maturidades das obrigações, permitindo-lhes pedir mais dinheiro emprestado para financiar novos e melhores projectos. Se a negociação não for alcançada de modo voluntário, as empresas norte-americanas podem recorrer ao Capítulo 11 do código das falências [Chapter 11], sob o qual um tribunal fiscaliza e aprova a reorganização do endividamento. Por isso, pensar-se-ia que o mesmo seria verdade tanto para as famílias norte-americanas como para os governos europeus em apuros. Mas a reestruturação da dívida tem sido muito reduzida e veio demasiado tarde. Porquê?

Em ambos os casos, o principal argumento para não remover o excesso de dívida vem dos banqueiros, que defendem que tal iria criar uma destruição nos mercados por duas razões. A primeira é a de que os bancos são credores primários, e os enormes prejuízos que enfrentariam em qualquer reestruturação iriam desencadear um efeito dominó, com ondas de pessimismo a elevar as taxas de juro implícitas e a arruinar as expectativas de quem pediu empréstimos. Em segundo lugar, os bancos também seriam prejudicados pelo facto de terem vendido seguros contra incumprimento – em forma de "credit-default swaps". Quando estes títulos fossem activados, os bancos iriam incorrer em prejuízos possivelmente muito mais prejudiciais.

No caso da Grécia, os banqueiros internacionais argumentaram durante muito tempo e com muita força que uma reestruturação à dívida iria criar um contágio em toda a Zona Euro – e talvez, até, além da região. E, mesmo assim, a Grécia não teve outra escolha a não ser reestruturar a dívida, cortando o valor dos créditos privados em cerca de 75% relativamente ao seu valor facial (embora ainda possa não ser suficiente para tornar sustentável o encargo com a dívida do país). Foi considerado como um "evento de crédito", razão pela qual os "credit-default swaps" foram exercidos: aqueles que garantiram seguros contra incumprimento tiveram de pagar.

Abriu-se a porta para todo o tipo de problemas? Não. Os bancos não foram à falência e não há sinais de dominós de desordem. Mas isso não se deveu ao facto de os bancos se terem preparado com aumentos ou reforços de capital. Pelo contrário, comparando com os prováveis prejuízos no futuro, os bancos europeus reforçaram relativamente pouco capital nos últimos tempos – e muito dele foi através de contabilidade criativa, mais do que através de uma verdadeira absorção de todas as perdas no capital próprio.

Talvez o risco de que a reestruturação da dívida da Grécia conduzisse a uma crise financeira tenha sido sempre mínimo, e se esperasse já a tranquilidade nos mercados. Mas, nesse caso, porquê todo este alarido?

A resposta deve ser óbvia neste momento: os grupos de interesse e a visão das elites políticas. Mesmo que o risco para o sistema financeiro fosse mínimo, o impacto sobre os bancos e os detentores de obrigações seria substancial. Estes perderiam milhões e muitos funcionários do sector financeiro ficariam sem emprego. Sem surpresas, os maiores banqueiros juntaram-se contra a reestruturação da dívida, tanto em privado como em público.

Por exemplo, o Instituto para as Finanças Internacionais, um proeminente grupo de pressão a favor dos grandes bancos, sedeado em Washington, nos EUA, defende consistentemente: resgatem-nos ou toda a gente vai sofrer as consequências. Mas, tão importante como o seu enredo é o seu poder político, que tem vindo a crescer bastante nos últimos anos – até ao ponto em que todos os grandes decisores políticos nos EUA e na Europa protegem as fortunas dos bancos mesmo quando estas não têm grandes implicações para a economia.

Mesmo neste momento, muitas das perdas que os banqueiros deveriam enfrentar estão a cargo do sector público, incluindo através de várias formas de apoio directo ou através das acções extraordinárias e arriscadas do Banco Central Europeu. A extensão dos subsídios neste sector é magnífica e, sob as actuais políticas, deve apenas aumentar ao longo do tempo – apoiando sobretudo, desse modo, os estilos de vida do 1% milionário da população de países muito ricos.

O incumprimento grego acabou por se tornar naquele proverbial cão que nunca morde. A lição para a Europa – e para os EUA – é clara: é tempo de parar de ouvir o que os bancos dizem e de começar a focar-nos no que eles fazem. Temos de reavaliar a economia política distorcida do sector financeiro antes que o seu excessivo poder imponha custos ainda maiores sobre toda a gente.

Daron Acemoglu é professor de Economia no MIT e co-autor de Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity and Poverty. http://whynationsfail.com/

Simon Johnson, professor na Sloan School of Management, do MIT, e membro do Peterson Institute for International Economics, é co-autor de White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why it Matters to You. http://whitehouseburning.com/
 
 
A ler com muita atenção e a devida vénia vindo do Aliás!

CIDADÃOS SUSPIRAM PELA EMEL

«Cidadãos querem EMEL em Pedrouços, Restelo, Belém, Ajuda e Alcântara»

Criar emprego sustentável para uns  e insustentável para quase todos, para além de criador de falta de mobilidade é um dos esteios de sustentabilidade e criação de emprego de alguns "eleitos" deste povo.
Uma notícia estrategicamente colocada, calcula-se por quem, diz que cidadãos querem EMEL.

A EMEL responde-lhes solícita: já tal está pensado. 
É que é preciso equilibrar as contas da EMEL, desta grande empresa do transaccionável Português que cria valor ao importar equipamentos que sugam os pouco proventos dos Portugueses. 
Alguma coisa muda com este governo que se diz inimigo do despesismo? 

O FECHO DA DOW CHEMICAL EM PORTUGAL

«A porta-voz da Dow Chemical explicou que o encerramento da fábrica em Portugal e também na Hungria se deve às "condições de mercado muito pobres e às desfavoráveis perspectivas económicas".
Qualquer pessoa inteligente percebia que a sobreausteridade teria este efeito. 
É que muitas das empresas que se instalam num determinado país, instalam-se numa perspectiva de produção e venda ao mercado interno. 
É neste equilíbrio entre mercado interno e externo que o emprego se cria. 
É delirante pensar que podemos sobreviver apenas de exportações, principalmente num cenário de retracção noutras paragens.

domingo, 1 de abril de 2012

O POVO SAIU À RUA

O sofrimento silencioso de uma parte deste povo que merecia uma elite do poder mais desprendida e solidária, está bem plasmado neste post da Suzana Toscano - mas também no "estar sentado é perigoso para a saúde" e no "resistir" de Massano Cardoso- e infelizmente não é caso único (Sampaio falava há pouco na enorme dignidade de um povo que sofre! - infelizmente um sofrimento imposto muito do qual não da sua responsabilidade).

Portugal tem esta coisa estranha de conviver com o melhor em várias "artes e disciplinas", como é hoje o caso da medicina dentária, com uma parte de um povo etnograficamente de uma extraordinária riqueza que o tem feito sobreviver à indecência de uma nobreza de corte - como o que se mostrou ontem contra a morte das freguesias por decreto - desprovido e excluído do acesso a um rendimento mínimo de dignidade e sustentabilidade (basta cruzar o PIB per capita com a distância entre o seu ponto mínimo e máximo). 

Em consequência, sofre o povo e sofre o país, enquanto se enganam do seu "vazio interior" uns poucos, por um país desequilibrado a várias velocidades. Que se alterasse esse desequilíbrio com mais justiça de partida e solidariedade, conseguiria o país só por essa via "ganhar" muitos pontos a acrescer ao PIB, ajustando-se até no seu ratio orçamental e reganhando novos sorrisos, em muitas das poucas faces desta população sistematicamente amargurada, desesperançada e  triste.