sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A POBREZA DIMINUIU: PUBLIQUE-SE!


Lá continuam os assessores e as empresas de comunicação a desinvestir na verdade!

Acreditar acreditávamos se a notícia acrescentasse a expressão muito económica de ceteris paribus (exp. do latim: tudo o mais constante), se todos os outros factores (inflação real incluída) se tivessem mantido sem alteração, ou mesmo se o Governo optasse por novos instrumentos muito expressão financeira, os novos ricos ou remediados ... "futuros"!

Mas caros manipuladores da opinião pública, já poucos vos ouvem, a não ser para soltar estridentes gargalhadas, principalmente o informal submundo, além que não é isso que vislumbramos nas ruas, nos jardins, nas esplanadas, no bate-boca e acreditem, que a comunicação informal vale bem mais que mil encenadas "patranhas"!

Verdadeiramente assombroso, isso sim, é:
«Em 2009 Reformas dos políticos vão custar 8,3 milhões» ou «A partir de Outubro Mais 207 reformas milionárias» ou ainda, esta verdadeira pérola clientelar da utilização e duplicação dos dinheiros públicos nacionais: «DN: «Governo vai gastar 167,7 milhões de euros em estudos» Em estudos, projectos e pareceres encomendados a gabinetes de advogados, de engenharia e consultores privados».

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

MANIFESTO ANTI-SÓCRATES

No meio do Câmara dos Lordes, The Right Honourable, the Lords Spiritual and Temporal... encontrei esta preciosidade, ESTE MANIFESTO ANTI-DANTAS ... PERDÃO ANTI-SÓCRATES! A ouvir com atenção ...

ONDE SE LIA AGRAVAMENTO ... DEVE PASSAR A LER-SE APROFUNDAMENTO!

«não há um agravamento no que respeita aos impostos praticados sobre os veículos, ...o que está em causa no Orçamento do Estado é uma continuação das alterações efectuadas em Janeiro de 2007 ... Não houve qualquer agravamento dos impostos. Pretendemos é aprofundar os resultados da reforma de Janeiro de 2007.»

Afinal não há um agravamento! É só, na semântica do governo, um aprofundamento! Salvaguardar a posição da indústria nacional de produção e componentes automóveis, isso à posteriori será, apenas, um ... afundamento!

OS ABUTRES


«Se vendeu ou pensa vender casa através de uma agência, saiba que pode e deve deduzir a comissão no cálculo das mais-valias»

Só? E o restante? Quando se sabe que a inflação andou pelos 2 dígitos nos últimos vinte anos? Que Estado é este que numa situação de crise em que muitos dos seus cidadãos querem vender património para sobreviver, lhes quer sugar uma parte do seu património?

Uma coisa são mais-valias de um mercado de especulação outra do mercado de poupança! E que sinais contraditórios minam a confiança nas instituições? Será apenas o mercado e alguns abutres do mesmo? Ou o Estado, através de alguns dos seus representantes, faz a mesma figura? De quem foi esta ideia brilhante que penaliza a poupança?

INANIDADE MENTAL,
INDIGNIDADE TOTAL
OU O ESTADO DA FORMAÇÃO

Que os professores andavam cansados, pelo estado deste Estado, baldas, indisciplinado, de dupla personalidade, esquizofrénico e dirigista ... já todos sabíamos! ... mas que se tenha chegado a este estado de quase compulsão e concertação para a inanidade total ... nem nas clínicas psiquiátricas das piores revoluções culturais, dos piores estados totalitários, dos piores gulags!

Economista Miguel Frasquilho comenta Orçamento de Estado em directo

O comentário de Miguel Frasquilho está em linha com aquilo que a população em geral sente, um país anémico como diz Alberto João Jardim, um Portugal a cair cada vez mais em termos de riqueza face aos parceiros Europeus, um Portugal em 21 lugar em 27. O que está em causa aqui é a realidade nacional, não a luta ou a cegueira partidária!

10 anos a divergir da Europa! Durante toda a legislatura o Governo criou cada vez mais dificuldades às pequenas e médias empresas, motor e sustentador do emprego, com perseguições de todo o tipo, complementarmente a uma política absurda e errada, de não reposição do poder de compra dos funcionários públicos, dando indirectamente à actividade privada indicação de não reposição do nível salarial, que como (bem diz Carvalho da Silva) só multiplica as dificuldades da economia. Não se pode no Portugal de 2008, face ao custo de vida actual, manter (e bastavam os argumentos da humanidade e do combate às desigualdades), ordenados minímos de 400 €, ordenados de perfeita miséria, valores incapazes de subsistência e de produtividade, sob pena de inviabilizarmos o crescimento e o desenvolvimento pela rarefacção do mercado interno! Não se pode esperar produtividade, com empresas onde os funcionários estão mais preocupados com a subsistência a meio do mês do que com qualquer réstia de brio profissional!

O País tem alguns problemas que urge resolver e que já estão suficientemente identificados. Porque o problema do país não é só o das baixas qualificações profissionais, se não não estaríamos a atirar com jovens com bastante formação para a emigração, delapidando recursos humanos importantes. Nem o país pode continuar a subsidiar o país vizinho com taxas de impostos, que colocam os nossos factores de produção e inputs a valores superiores a Espanha, nosso principal parceiro, tirando-nos competitividade, e mais grave ainda desertificando a zona raiana! Nunca, por nunca, a taxa do IVA ou a taxa sobre combustíveis, deveria ser superior ao de Espanha.

Os resultados estão à vista perante a cegueira da luta partidária: um País a divergir da Europa, descrente, desmobilizado, com os potenciais agentes económicos sem vontade de investir, apáticos. Um das causas primárias: o fundamentalismo fiscal! Durante os últimos anos o que os agentes económicos sentiram em Portugal foi uma sanha persecutória da parte do fisco, um clima característico de Portugal (a passagem do oito ao oitenta), anatemizando-se e liquidando-se os agentes económicos por eventuais fugas ao fisco, chegando ao extremo da reversão das eventuais dívidas por parte dos administradores e sócios nas ditas sociedades por quotas (sociedades de responsabilidade limitada apenas na sua relação de direito privado), assumindo o Estado o papel de único privilegiado e com o único fito do valor supremo da consolidação orçamental ... sem querer saber dos crescimentos futuros e quase fazendo estagnar a economia!

Outra das causas: a não reforma da administração pública de uma forma muito mais arrojada, tendo-se assistido à asneira de aumentar a idade da reforma em vez de diminuí-la, não se tendo a coragem, e essa sim, de limitar mesmo com efeitos retroactivos os valores da reforma, colocando um plafond máximo de 1500 ou 2000€ para os reformados, suficiente para a sustentação individual e colectiva em situação de reforma, e acabando com a dupla reforma que só privilegia algumas classes profissionais já privilegiadas entre elas a denominada, por Gaetano Mosca, de classe política. Em vez disso ataca-se os desempregados, esquece-se os milhões de pessoas que trabalham a recibos verdes, e que em caso de não emprego são atiradas para a miséria, atira-se a população novamente para os caminhos da emigração. Não se tem a coragem de acabar com o flagelo dos recibos verdes, talvez porque não seja uma questão de coragem, mas de interesse para todos os que vivem da "grand boffe" do orçamento.

Esta política ao atingir um número brutal de pequenos empresários, que desmobilizados e descapitalizados deixaram de assumir riscos com medo de ficarem, por dificuldades próprias da actividade empresarial, na miséria, corrompe a criação de empresas e emprego e a iniciativa multiplicadora individual.
Teixeira dos Santos não acorda, não ouve, não prima pela inteligência nem pela solidariedade, sendo um dos piores ministros das finanças de sempre, um dos maiores responsáveis da astenia da economia Portuguesa. A sua fixação doentia no défice atira Portugal para um cada vez maior afastamento do crescimento e do desenvolvimento, a sociedade civil agoniza.

Portugal precisa de produzir bens transaccionáveis, precisa de ir pelo caminho da produção. Precisa de incentivar os seus agentes económicos nacionais e os seus grupos económicos a enveredarem pela via da criação de empresas verdadeiramente produtivas, em vez de se manterem apenas nas funções comerciais e de especulação. Aquilo que o PCP diz, é inteiramente verdade! Sem produtos transaccionáveis não poderemos aspirar a mais nada do que ser um quintal ... ainda por cima com graves lacunas, que muitos custos nos trazem, de desordenamento territorial!

A melhor política para Portugal seria, assim, a que refundisse e extraí-se dos partidos do poder um novo poder, onde se aproveitasse o que de melhor cada um dos partidos tem. Só, assim, poderíamos deixar de ser o Portugal de sempre, o Portugal sem ambição, o Portugal amordaçado pelo Estado de poucos na sua luta pelo poder, o Portugal do mal estar difuso que perpassa pela sociedade Portuguesa sem fim à vista!

Faça-se uma nova democracia, baseada na verdadeira participação, os Portugueses exigem-no, as novas gerações de Portugueses não perdoarão aos seus pais se tal não for o caminho!

PÉROLAS DOS PORCOS

«Em 2009 comprar um carro vai sair mais caro ao bolso dos portugueses ... Apesar das benesses fiscais concedidas às famílias e às empresas, o Orçamento do Estado para 2009 prevê um aumento substancial da taxa de Imposto Sobre Veículos (ISV), aplicado à compra de automóveis novos.
O Executivo espera arrecadar 1100 milhões com o ISV, que se traduz num aumento de 16,9% em relação ao valor que estima cobrar em 2008.»

Intraduzível e criminoso! Numa altura em que era fundamental diminuir custos a todos os níveis, de modo a aumentar a folga das empresas, para manter a sua carga competitiva, e dos cidadãos em geral, o Estado reagindo à quebra de receitas por via do empobrecimento geral da nação, carrega e empobrece mais ainda os cidadãos! Entretanto com a rapina constrói-se nova auto-estrada, para ser percorrida ... por um par de Ferraris, uma junta de bois, e uma parelha de ... burros!

Os portugueses continuam a retirar dinheiro dos certificados de aforro. Desde final de Janeiro, quando o Governo alterou as regras dos certificados e inaugurou a nova série C, os aforradores já retiraram perto de mil milhões de euros do instrumento de poupança, avança o «Diário Económico».
Mais outro crime cometido contra os Portugueses, ou reflexo do empobrecimento geral do País, ou as duas coisas em simultâneo?

JN: «Pensões acima dos 2500 euros também vão aumentar»
Política socialista? ... e o crime contínua! Carrega-se nos baixos salários e nos impostos que afectam as famílias de menores recursos, para distribuir pelos pobres pensionistas com mais de 2500€!

DN: «Pensões acima dos 611 euros vão perder valor»
Que política criminosa é esta? Será que Sócrates fez voto de aniquilar a vida dos Portugueses? É que se assim é, parece-se cada vez mais com Miguel de Vasconcelos! Já experimentou baixar para 1/4 o ordenado dos administradores do Banco de Portugal?

«Preço da electricidade vai subir 4,3 por cento em 2009». O que na factura mensal significa um acréscimo de 1 a 2,4 euros.
Afinal como é? A inflação anda na casa dos 2% e aumenta-se a electricidade em 4,3%, ou também reflexo de uma aposta em energias mais caras ou necessidade de aumento dos lucros da EDP?

«Professores cantam louvores ao Magalhães». A polémica instalou-se na blogoesfera e no YouTube. Em acções de formação promovidas pelo Ministério da Educação, professores foram convidados a inventar canções de louvor ao computador Magalhães. Há professores que consideram «surreal» a iniciativa!»
Só os professores? Ou os cidadãos de bem? É que ainda os há! Sócrates cada vez mais parecido com Chávez ou com as técnicas do regime anterior! Um exemplo de democracia!

«Só 250 mil euros contra a corrupção». Conselho de Prevenção da Corrupção, criado pelo PS, de novo debaixo de fogo. Orçamento do Estado prevê verba de funcionamento 80 vezes inferior à do Tribunal de Contas»
Obviamente que o fogo fátuo é isso mesmo, para Português ver!

Público: «Peso do Estado na Economia é o mais elevado de sempre»
Novos critérios contabilísticos no Orçamento ocultam subida da despesa pública para 47,8 por cento do PIB. O défice não é afectado»
Reflexo da crise financeira ou continuação do aniquilamento do Estado produtivo, do Estado dos cidadãos, em detrimento do Estado mãos abertas para ... os amigos? Quando será que neste País se irá pensar que mais importante que o ministério das finanças, deveria ser o ministério da economia?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

DIA MUNDIAL DO PROFESSOR

O que é que a declaração universal dos direitos do homem tem a ver com o dia mundial consagrado aos professores? Se calhar em alguns países, tem quase tudo!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

AINDA HÁ DISTO NESTE MUNDO?

VIVER E PERDER EM REIQUEJAVIQUE



Excelente blog de mais um expatriado Brasileiro em terras do sol da meia noite, clicar na imagem para sentir a diferença, viver na Islândia , dá-nos a dimensão da crise do consumismo e do erro da Krona solitária face ao Euro.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

QUE REVIVA EM VIDA HERBERTO HELDER


O AMOR EM VISITA
Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.
Cantar? Longamente cantar,
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas,
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes
ele - imagem inacessível e casta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.
Ah! em cada mulher existe uma morte silenciosa;
e enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.
Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.
Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte.
Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.
Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada beleza.
Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.
Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe
a força maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.
Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz sobre
as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.
Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.
Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.
Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.
Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.
Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.
Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.
Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento
na cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.
Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.
As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.
Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.
Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.
E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.
De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.
Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.
E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.
Herberto Helder

O BURRO DE BURIDAN


Será possível ser-se não alinhado?

Quando começei a tentar dar movimento e cor a um post dei por mim como o burro de Buridan, a abanar a cabeça à esquerda, ao centro e à direita.

Depois de muito pensar e correndo o risco de morrer de fome como o burro de Buridan, eliminei a indecisão e decidi-me por ... recusar qualquer alinhamento!

A partir de agora, burro que é burro, não passa fome, debica de todos os "comedoiros".

O MAESTRO SEM PÚBLICO



Ontem ao fim da tarde cruzei-me com Vitorino de Almeida.

Ia solitário, abanando a sua bengala, como se fosse trauteando e compassando os seus passos! E olhando para ele, indignei-me e apeteceu-me apertar-lhe a mão! Como é possível não me ter cruzado mais cedo com o Maestro, num pequeno écran, como é possível estas miseráveis elites do poder eclipsarem as verdadeiras elites do saber?

Afastei-me, enquanto o Maestro cruzava a esquina, pois numa montra passava a quarta novela do dia, desta nacional sinfonia do culto da ignorância!

CÃES DE FILA

Se há algo mais grave do que um cão de fila, daqueles que são mais papistas que o papa e que adornam com baias os seus interesseiros ou vingativos pescoços, só um cão de fila daqueles que, quando o dono assenta e acena cínica e traiçoeiramente com a cabeça, com atitudes e beijos de Judas, ferra uma violenta dentada em tudo o que é oposição.

Assim, alguns dos cães de fila da nossa praça que exercitam o ódio monocolor, por dá cá aquela palha, servindo a um só dono, sempre no mesmo doentio sentido, sem querer saber do interesse do seu País, dos apelos à unidade, à razão , interesse geral ou humanidade ... que a sanha radical que os norteia, é o seu traço-universo distintivo de ADN ... político-animal!


«Teixeira dos Santos:"O Orçamento é uma responsabilidade do Governo" ... "O Orçamento do Estado é uma responsabilidade do Governo que não ignora as dificuldades dos portugueses". É desta forma que o ministro das Finanças reage à pergunta sobre as pressões de Cavaco Silva para que o próximo plano orçamental inclua medidas que atendam à situação cada vez mais débil das famílias portuguesas.»

«AS COISAS TÊM UM PREÇO, MAS OS HOMENS TÊM DIGNIDADE»

«Um fosso» entre ricos e pobres ... Sublinhando que em Portugal «existe um desnível, um fosso, entre ricos e pobres dos mais altos da Europa», D. António Marto criticou um sistema financeiro «que vive da avidez do lucro imediato» e que faz sobressair a «necessidade de criação de instituições nacionais e internacionais de orientação e regulação dos mercados financeiros».

É curioso que seja a Igreja a apelar ao racionalismo de Emanuel Kant quando diz que «as coisas têm um preço, mas os homens têm dignidade».

É curioso, também, que seja a Igreja a criticar o sistema financeiro e a avidez do lucro imediato, num regresso à condenação medieval da usura.
De qualquer modo numa altura em que o Estado exige dos eclesiásticos que cumpram as suas obrigações fiscais em maior paridade com os restantes cidadãos, deveria a Igreja Nacional olhar para dentro e repensar a governação de alguma das suas instituições onde prolifera a usura, o incumprimento de regras de legislação fiscal e laboral e o enriquecimento sem causa.