segunda-feira, 29 de novembro de 2010

AS CARACTERÍSTICAS DAS PROFISSÕES DO CONHECIMENTO


As características das Profissões do Conhecimento
em aproximadamente 5339 palavras

PALAVRAS-CHAVE
(por ordem aleatória)
Profissão do Conhecimento; Trabalho do Conhecimento; Conhecimento Tácito; Conhecimento Codificado; Conhecimento; Autonomia; Não estruturação; Comprometimento; Não Partilha; Extensividade; Pensamento; Autonomia; Actualização; Emergência; Não Rotina, Independência.

1. INTRODUÇÃO: DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DE PAULUS À INTRODUÇÃO, TOUT COURT
A dissertação de mestrado de Margarida Ramires Paulos (PAULOS, 2009) enuncia-se em três palavras - chave: vestuário, designers, conhecimento, remetendo-nos não para uma rendição sem glória, de um qualquer general Paulus (cercado na ignorância do conhecimento do inimigo nas estepes geladas), mas para uma trilogia de um sector de confecção bem provido da arma do conhecimento. Para quem pensava que o conhecimento remetia apenas para uma qualquer “cátedra” de um lugar reflexivo e fechado, e que não se misturava com actividades comezinhas e terrenas como a indústria do vestuário, a surpresa parece total. Para quem, como eu, já tinha algumas dúvidas se saberes e conhecimentos são várias coisas, ou uma e a mesma coisa, as dúvidas adensaram-se. Para quem, então, percepcionava o conhecimento como o ordenamento dos bites e dos bytes, ficou confundido quando lhe chegou de mansinho um enorme e forte soundbyte do tipo, “conhecimento não são tecnologias de informação”.
No início da abordagem deste trabalho, sobre as características das profissões do conhecimento é, assim, fundamental definir o objecto, o conhecimento, para percebermos o que são afinal as “profissões do conhecimento”. Parecendo, até, que todas as sociedades humanas se basearam no desenvolvimento e acumulação do conhecimento, em que é que se demarcam essas sociedades da actual denominada sociedade do conhecimento? Que o conhecimento nas sociedades tradicionais parecia guardado a sete chaves, pelos denominados - por Giddens - de “guardiões da verdade”, em torres que faziam “tombar” as sociedades para estruturas profundamente ”piramidais”, desiguais e hierarquizadas, parecia! Com a sociedade moderna, a educação e o conhecimento passam, entretanto, a ser direitos e apanágio das massas, factores de competitividade económica entre agentes e soberanias. As soberanias, até aí com uma forte pendor de conotação e subordinação política, transmudam-se em soberanias económicas, sendo cada um, cada vez mais, um agente soberano económico da sua vida. O aprofundamento tecnológico, até uma certa altura da sociedade humana, muito feito por via acidental do “encontro do martelo e escopro”, passa a ser um objectivo em si, como forma de resolução de problemas e novas possibilidades. O conhecimento passa, assim, de uma certa aleatoriedade acidental, para factor de crescimento económico, indicador de desenvolvimento, qual polegar que carrega no gatilho já com um alvo por finalidade.

2. MICRO – HISTORIAL: DO CUNHAR DO TERMO, AO SÉCULO XXI
Fazer um historial do modo como a sociedade “sentiu” no seu seio a evolução desta nova forma de “produzir”, não foi, nem é fácil. Assim o recurso à condição mais miserável de justificação de condição de recursos obrigou-me a recorrer, na enunciação histórica quase exclusivamente a esta informação (http://en.wikipedia.org/wiki/Knowledge_worker). Informação, no entanto, que condensa bem o percurso da temática e que serve como micro - historial que orienta e me/nos permite condensar aprendendo.
O termo, trabalhadores do conhecimento, parece ter sido cunhado por Peter Drucker em 1959 e referia-se a alguém cuja primeira função era trabalhar com informação ou alguém que desenvolvia e usava conhecimento no mercado de trabalho.
Em 1960, outro senhor, de seu nome Weiss, dando ao conhecimento sentido operativo afirma que, “o conhecimento nasce como um organismo, com a informação a servir como alimento a assimilar, mais do que a armazenar”.
Popper foi “o senhor que se segue”, em 1963: “…há sempre uma crescente necessidade de conhecimento para crescer e progredir continuamente, seja tácita…”, afirmação já não de Popper mas de Polanyi, em 1976, “…ou explicitamente”.
Alvin Toffler, o “senhor da Terceira Vaga”, em 1990, observa: “os típicos trabalhadores do conhecimento, especialmente os cientistas de ID (investigação e desenvolvimento), na era do conhecimento económico, devem ter algum sistema posto à sua disposição para criar, processar e desenvolver o seu próprio conhecimento. Nalguns casos precisam até de saber gerir o conhecimento dos seus auxiliares”.
Ikujiro Nonaka, japonês, professor emérito da Universidade Hitotsubashi, em 1991, concebeu e descreveu a espiral do conhecimento, conhecimento como “o combustível da inovação”, preocupando-se acessoriamente com o facto de muitos gestores não perceberem como o conhecimento pode servir de “alavancagem”. “As empresas são mais como organismos vivos do que máquinas”, argumentava acrescentando: “e muitos vêem o conhecimento como um input estático para a máquina empresarial”. Nonaka advogava uma visão do conhecimento, como renovável e em constante mudança, atribuindo aos trabalhadores do conhecimento o papel de “agentes da mudança”. Acreditava que a criação de empresas de conhecimento deve ser focada fundamentalmente na tarefa da inovação. Savage, em 1995, estabeleceu o foco no conhecimento, como a Terceira vaga do desenvolvimento sócio económico.


A primeira vaga teria sido a Idade da Agricultura, definida como a posse da terra. Na segunda vaga, a Idade Industrial, baseia-se na posse do capital e nas fábricas. Na Idade do Conhecimento, a posse do conhecimento, e a capacidade de usar esse conhecimento para criar ou desenvolver bens e serviços. “A melhoria dos produtos envolve custos, duração, apropriação, tempo de entrega e segurança”, acrescentava.
A afirmação de Ann Andrews, antevia o uso da informação na Idade do Conhecimento, prelúdio de 2% da população a trabalhar a terra, 10% a trabalhar na Indústria, sendo os restantes trabalhadores, trabalhadores do Conhecimento.
Tapscot, no ano 6 do Século XXI, estabelece uma forte ligação entre trabalhadores do conhecimento e inovação, com o ritmo e a interacção cada vez mais avançados. Descreve as ferramentas dos “média sociais”, na Internet, que conduzem a formas cada vez mais poderosas de colaboração. Os trabalhadores do Conhecimento envolvidos em conhecimento ponto a ponto, “peer-to-peer”, partilhando e cruzando-se nas fronteiras das organizações empresariais, formando redes de especialização. Algumas delas estão abertas ao público. Enquanto demonstra preocupação sobre as leis de copyright e de propriedade intelectual, desafiadas no mercado, ele sente que os negócios devem colaborar para sobreviver. Reconhece a aliança entre sector público e privado e a criação de parcerias como forma de resolver problemas, referindo-se ao sistema operativo “open source da Linux”, bem como ao projecto do “Genoma Humano” como exemplos de troca livre de conhecimento com criação de valor.
Devido à rápida expansão global da informação, transacções de base e interacções sendo conduzidas via internet, tem havido um incremento cada vez maior da procura de força de trabalho capaz de proceder a essas actividades. Estima-se que os trabalhadores do Conhecimento podem ultrapassar em número, todos os outros trabalhadores da América do Norte pelo menos numa margem de 4 para 1.
Embora as funções dos trabalhadores do conhecimento se confundam fortemente com profissões que exigem formação universitária, a natureza do trabalho do conhecimento no ambiente do trabalho integrado de hoje, exige praticamente de todos os trabalhadores obter estas competências em qualquer nível. Para esse efeito, a educação pública e os sistemas de comunidades universitárias têm vindo a centrar-se crescentemente na aprendizagem ao longo da vida para assegurar que os estudantes recebam as competências necessárias para serem trabalhadores produtivos do conhecimento no século 21.


3. DA ENUNCIAÇÃO E DO CONCEITO DE PROFISSÃO DO CONHECIMENTO ÀS CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DO CONHECIMENTO

“Na economia actual, são os cavalos que puxam a carroça do progresso económico” (Davenport, 2007, p. 14)

É curioso como a citação equídea de (Davenport, 2007), referida aos “novos cavalos vapor” energéticos do mundo em progresso, marca um novo período paradigma revolucionário pós-revolução industrial. É certo que um dos subtítulos de Davenport remete-nos para a importância crescente dos trabalhadores do conhecimento, reforçando a ideia que o trabalho do conhecimento até já existia na idade das trevas feudais, enclausurados os monges em conventos húmidos e propensos já a roubos da inteligência. Como diz, aliás, Davenport nos esconsos do seu livro, “Todos pensamos como forma de vida”. Assim no catálogo histórico da humanidade, transversalmente a todas épocas históricas, os escritores enquanto campeões da miscigenação das ideias, não seriam e/ou serão já fenótipos de trabalhadores do conhecimento? Ou será que a abordagem lúdica ou profissional os “in” ou “ex” cluí?
A ascensão do trabalho do conhecimento não é um fenómeno novo, já que há muito que a automação nas fábricas e quintas rendeu os trabalhadores manuais. O acesso à computação e a informação a todo o tempo, para muitos, já uma nova forma de vida, trouxeram uma nova vaga de trabalhadores capazes não só de produzir informação como trabalhá-la. A sua influência económica na cadeia de criação de valor é directamente proporcional à sua remuneração. O trabalho intensivo “parece que já era”, definitivamente ultrapassado pelo conceito de “Conhecimento Intensivo”. O trabalhador industrial - quase nunca chegando a intervir fisicamente no processo produtivo - já hoje é mais um interface entre a máquina e a produção, a resultante final de uma espécie de recurso input imaterial Industrial. Exemplos como o da Microsoft, na fileira do software, e mesmo a indústria farmacêutica, são hoje empresas onde a profissão do Conhecimento tem um espaço seguro. Produzir minúsculas drageias, quase como “pequenas hóstias”, não compara com o trabalho intangível de investigação de novas “drogas” que curam.
Sobre o conceito de profissão do conhecimento, Margarida Paulus, começa a sua dissertação com uma citação de John James : “Se considera a formação cara, experimente a ignorância”. Eu preferiria ter adoptado a minha própria citação: “Se considera o profissional do conhecimento caro, experimente o profissional sem conhecimento.” Trás Margarida à colação e à liça, pelo menos aparentemente e como hipótese, o conceito do valor - trabalho como forma diferenciadora na classificação do conceito. Marx ia pela certa adorar, mais não seja porque Das Capital abrir-lhe-ia as portas do epíteto de ter sido um dos grandes trabalhadores do conhecimento da contemporaneidade. “Yes We Can!” poderia já Marx citar “rosnando” para o seu proletariado, o “rei”, antecipando-se a uma e depois outra personalidade da história, entre o capitalismo desenfreado do liberalismo e o socialismo científico, nova porta aberta a um socialismo aparentemente não científico porque sem “cocheiro” do conhecimento.
Diz Margarida que “todo o trabalho envolve conhecimento”, distinguindo conhecimento tácito de conhecimento codificado. Codificado que parece ter a ver com o resultado do processo de transformação do tácito em codificado - partilha mais generalizada de um conhecimento ou competência específica partilhada por pequeno grupo. Codificar conhecimento parece, assim, ser de certo modo dar “à luz” e universalizar o rebento. Os procedimentos de rotina conhecem já a existência de conhecimento, sendo entretanto pré-condição necessária para o funcionamento dos sistemas formais, isto citando um senhor de nome McKinlay. Margarida avança um conceito extraído do projecto Works, o que parece muito bem, dado que o “Work” (trabalho) é condição necessária para as profissões do conhecimento: “um profissional do conhecimento é alguém que é qualificado, aprendeu e tem acesso a um corpo de conhecimentos formal, complexo ou abstracto e que manipula símbolos ou ideias”. E que trabalha, acrescentaria eu. Sob pena de não ser um trabalhador do conhecimento, mas apenas um “jactante - presunçoso – petulante”, que devaneia. Passeando-se por mais alguns senhores que debitam definições como Handy, Warhurst, Thompson, Newell, Alvesson e Reich, e porque ao contrário de Margarida este meu trabalho não tem pretensões de tese, foco-me em Reich e na sua afirmação da emergência de três novas categorias de trabalho: os serviços de produção de rotina, os serviços inter-pessoais, e os serviços “simbólico – analíticos”.
No seu capítulo I “Afinal, o que é um trabalhador do conhecimento”, Davenport testa de forma empírica várias hipóteses e enumera várias características que parecem sobressair: “trabalhador de conhecimento gere outros trabalhadores do conhecimento”; “sabemos mais do nosso trabalho que qualquer outra pessoa; “Não gostamos que nos digam o que devemos fazer”; “Responsáveis por impulsionar a inovação e o crescimento na sua organização”; “São eles que inventam novos produtos e serviços concebem os planos de marketing e criam estratégias”.
Esta enumeração empírica de várias regularidades parece já, mesmo que se de uma forma primária e desordenada, dar algumas pistas para o conhecimento de algumas características das profissões do conhecimento. Já lá vemos incorporados, os planificadores e os criativos do Marketing, já lá vemos pela maioria de razão do foro do Direito, os estrategas militares .
Retornando um pouco atrás convêm-me, a bem de algum rigor e da minha sanidade, dado encontrar tanto a designação de trabalhador do conhecimento como profissional do conhecimento recorrer à comparação dos dois termos para perceber, quais as diferenças na utilização, e se o uso indiscriminado tanto de um como do outro termo, não afecta a nossa, minha, clarividência: trabalhador do conhecimento, profissional do conhecimento ou TC e PC “all together? Do mesmo modo que nos ficou esta rábula do quem és, donde vens e para onde vais, também a resposta poderia ser como a de Bocage: “sou o poeta Bocage, venho do café Nicola e vou para o outro mundo se disparas a pistola!” O que é facto, é que vindo não se sabe bem de onde, surge-nos este acrescento de características dos “Do Conhecimento” que, como a Bocage, poderemos fazer distender se pressionada a fácil língua. A centralidade de qualificações intelectuais e simbólicas no desempenho das funções; a auto-organização e uma autoridade por parte da empresa; uma tendência para formas organizacionais “ad hoc” em vez de formas burocráticas; um elevado grau de incerteza e sensibilidade em relação aos problemas e à sua resolução; a solução de problemas complexos com elevado grau de subjectividade e incerteza.
Uma outra definição certinha e sibilina já nos tinha sido proposto: o uso de capacidades intelectuais e analíticas requerendo uma educação teórica formal, e uma experiência empírica com tarefas pouco rotineiras de alguma criatividade.
Pensando o momento, que é o ano 2010, não me parece que “o pouco rotineiro” tenha integral cabimento, já que - como não chamar Trabalhador do Conhecimento aos esforçados investigadores que se debruçam “ad infinitum” sobre o estudo combinatório e recombinatório do Genoma humano? Ficaria muito mais perto se adoptasse a carga Descartiana do “Penso, logo existo” e a transmutasse em “Penso, logo Conheço”.

4. DAS PROFISSÕES DO CONHECIMENTO E DA SUA ENUMERAÇÃO
Antes de tentar encontrar e enumerar algumas características das Profissões do Conhecimento, seria bom tentar “ver” onde esta massa cinzenta em movimento se aloja.
A Gestão, os Negócios, o Domínio Financeiro, a Informática e as Matemáticas, a Arquitectura e a Engenharia, as Ciências da Vida, a Física e as Ciências Sociais, o Direito, as Profissões da Saúde, os Serviços Sociais e Comunitários, a Educação, Formação e Documentação, a Arte, o Design, o Entretenimento e o Lazer, o Desporto. É claro que em algumas destas áreas nem todos serão trabalhadores do Conhecimento, mas é inegável que há em todas elas, em maior ou menor grau, nichos maioritários de pessoas que utilizam o pensamento para “levar a sopa”… à mesa.
Por outro lado a exigência de grau académico, não sendo condição necessária, é cada vez mais um elemento fundamental, pela complexidade crescente da cadeia das “abordagens”. Profissões como a enfermagem, que evoluíram de uma tecnicidade muito mecânica e auxiliar, são hoje claramente chamadas a rotinas graduadas e especializadas, com recurso quantas vezes a equipamentos complexos, informatizados ou não. É indubitável, também, já no presente e no próximo futuro, que o único factor competitivo na economia, e na economia da(s) empresa(s), seja a produtividade do conhecimento, mormente dos seus trabalhadores do conhecimento. Afinal a produtividade nos mercados é sempre um factor relacional, e sem conhecimento só se vislumbra a estagnação.
Falar em profissões do conhecimento é, também claramente, falar em processos e empresas tecnológicas. Do mesmo modo que a agricultura pode ainda usar a charrua nuns ombros feridos e tisnados pelo sol, do mesmo modo a produção biotecnológica e a agricultura de precisão convivem aparente, paradoxal e simultaneamente, no mesmo mundo e em mundos diferentes. A primeira é no entanto, quase “industrial”, a segunda familiar e de sobrevivência. É um facto que se falou há meio século de processos administrativos e operacionais, mas esses processos foram obliterados na sua importância para as organizações do presente com futuro, pelos processos do Conhecimento.

5. DAS CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DO CONHECIMENTO
É mais ou menos consensual que os trabalhadores do conhecimento dependem mais dos cérebros do que da força física.
Já vimos que a sua forma de vida é o pensamento, com competências de elevado nível, a formação que só pode ser contínua (se quiserem acompanhar o movimento de rotação da terra ou a desclassificação para Profissionais do Desconhecimento), já que o próximo dia é cada vez mais, diferente do anterior e a experiência elaborada e aglutinada. A sua carga é uma carga intelectual, não física, parecendo levar “no alforge”, uma quantidade enorme de prateleiras arrumadas e repletas de conhecimento operativo. Gestores, actores, pilotos, professores, escritores, autores, actores, jornalistas, designers de moda, de imóveis, de sapatos, de aviões, de automóveis, recorrem ao seu conhecimento intensivo para pôr a trabalhar as reais indústrias de produção intensiva ou extensiva.
Difícil parece ser, cada vez mais, encontrar pessoas claramente não identificadas com os trabalhadores do Conhecimento.
A questão de todos os trabalhos necessitarem, em maior ou em menor grau de algum conhecimento, não releva da necessidade que os trabalhos do conhecimento (e o profissional do Conhecimento por inerência) não usarem o pensamento apenas como uma pequena parte do seu modus produtivo. O grau e a interpretação são, assim, importantes na avaliação classificatória excludente, ou includente, do que é verdadeiramente um Profissional do Conhecimento.
Davenport encontra alguns princípios e características básicas no modus operandi: o gosto pela autonomia (quase autogestão, que não deve ser confundida com a não cooperação). Sendo pagos pela sua formação, experiência e competências é normal, e não surpreendente, que não gostem que alguém se imiscuía no seu território intelectual: que o diga realmente Maria de Lourdes Rodrigues, e em menor razão a actual ministra Alçada, mais dialogante e aparentemente em módulo de “Uma Aventura Pedagógica”. Os trabalhadores do ensino são, que ninguém duvide, verdadeiros e genuínos trabalhadores do Conhecimento. Não gostam porém, ao contrário, que o seu trabalho seja ignorado. Ao contrário dos trabalhadores que encaixam “capôs”, ou produzem sabões, os trabalhadores do conhecimento têm como meios produtivos, ou em terminologia Marxista como “meios de produção”, os seus cérebros e o seu conhecimento. A não estruturação é também outro dos seus elementos. Especificar os passos detalhados, e o fluxo de processos, não parece casar com as variações “impostas” pelos processos cerebrais de elaboração de Conhecimento. Assim, “O comprometimento” e “A Envolvência mental e envolvência emocional requerem-se!”
A valorização do conhecimento, e a não partilha, parecem também características dos trabalhadores do conhecimento. Partilhar o conhecimento de forma leve, não pode “fazer esquecer” que o conhecimento é a sua “arma”. Quem não tem um amigo advogado, que não veja com maus olhos partilhar o conhecimento base da sua sustentação?
Autonomia, não estruturação, comprometimento, não partilha, actualização, emergência (trabalho inerente emergente), não rotineiro, independência, autonomia são, assim, mais alguns atributos ou características comuns aos nossos trabalhadores. Haverá mais? Sim, e um aqui já à mão de semear, simples como uma folha de papel. Pensamento!
Na introdução do livro “como pensar como um trabalhador do conhecimento, um guia to the “mindset needed” para efectuar um trabalho de conhecimento – ou pesquisa competente - uma citação, de serviço, de William P. Sheridan: “How to think like a knowledge worker, Como pensar como um trabalhador do conhecimento”: pensar, envolve a separação da informação relevante da irrelevante. O conhecimento consiste em conceitos que estejam disponíveis como guia de acção e processo de informação. Logo, pensar, requer conhecimento: o conhecimento humano! E o conhecimento humano não exigirá, pensar “forte e feio?”
Os papéis e os benefícios dos Trabalhadores do conhecimento, papéis que contrastam com os processos meramente transaccionais, de rotinas ou de simples prioritização do trabalho: analisar dados para estabelecer relações; capacidade de “tempestade cerebral, brainstorm”; “pensar abrangente e divergentemente”; avaliar através de inputs prioridades complexas ou conflituantes; identificar e perceber “trends, trade-offs”; fazer ligações; perceber causas e efeitos; produzir novas capacidades; criar ou modificar uma estratégia.
As rotinas curiosamente podem, no entanto e também, requerer tecnologia de ponta, de produto ou exigir conhecimento do cliente, pelo que o suporte técnico, ou o suporte técnico ao cliente, inquéritos, … são quase como rotinas “de conhecimento”. Patentes e propriedade intelectual são valor que os trabalhadores do conhecimento trazem também para a empresa.

6. DO FUTURO DO CONHECIMENTO, DOS SEUS DETENTORES E DO “PULO DO GATO” DO AMIGO WIN.
Estava a preparar-me para fechar o trabalho, até para não extravasar do tema, quando encontrei um senhor de seu nome Win, Rodrigues, que me fez debater na cadeira por uma abordagem a um tema primo das características do profissional do Conhecimento.
Tratando-se do futuro do conhecimento, no entanto, não deixa de haver aqui uma ligação intensa às características das profissões e dos profissionais do Conhecimento. De seu nome Win Rodrigues, cristão, autor teatral e escritor, nascido por acaso no Brasil (como todos nós nesta sociedade global somos cada vez mais fisicamente nascidos por acaso, em qualquer lugar), administrador (possivelmente por excesso de ocupação nos tempos vagos) apetecia-me até, por me querer ver também como um trabalhador do Conhecimento com um sofreguidão holística de a tudo pertencer, escarrapachar o conteúdo integral – devidamente “censurado” e extirpado de gorduras - da sua “postada”, intitulada: os Donos do Conhecimento (diferente, muito diferente, dos “Donos da Bola”, rubrica com que outros Trabalhadores do Conhecimento no nosso país nos brindam diariamente, ocupando espaço fundamental do Pensamento Crítico - afinal chamar nomes ao árbitro fim de semana sim, fim de semana talvez, exercita só um aparte ínfima e negligenciável do nosso hemisfério e não nos faz mais mestres do Conhecimento.
Diz Win, com esse estilo, meio cabra, que os Brasileiros “perfumam” e talvez um pouco levado pelo efeito “Lula/Dilma”: “actualmente, o conhecimento parece coisa de indústria mesmo, patenteado … nas mãos apenas de cada profissional que estuda há anos os assuntos de determinada área. Há portanto muito monopólio das profissões para com os seus respectivos conhecimentos, já que elas são o chamado “pulo do gato” que é um factor competitivo diante de pessoas que nada conhecem sobre aquela profissão. Logo, algo puramente capitalista, porque, aliás, a divisão de trabalho, enfatizada pelo pai da economia clássica Adam Smith, foi um dos princípios apontados por Fayol que tornou-se um dos grandes “colaboradores” para a teoria da administração. Trocando em miúdos, o monopólio do conhecimento feito por representantes de cada área é algo puramente adaptado ao meio capitalista. Não há lógica, alguma, em afirmar que apenas os profissionais de uma determinada área devem ter o direito de conhecer aquela área, pois isso é algo articulado dentro do sistema capitalista para fins capitalista. Quase ninguém estuda medicina ou direito por hobby, porque as pessoas estudam para serem profissionais e ganharem dinheiro. Mas, quem estuda medicina ou direito por hobby, sem estar na academia, vai estudar porque gosta, não para ganhar dinheiro. A grande diferença de quem estudou medicina por conta própria para quem estudou na academia será que um está interessado no conhecimento geral da área e o outro nos conhecimentos e técnicas que serão usadas no exercício profissional. Pode soar estranho o teor desse artigo, pois quem fala sobre isso?
A verdade é que é raro, alguém conhecer sobre saúde se não for médico. É raro, alguém conhecer sobre nutrição se não for nutricionista. É raro, alguém conhecer sobre seus direitos se não for advogado ou profissional da área. Ou seja, a divisão de trabalho foi levada ao extremo na sociedade moderna, tão ao extremo que cada pessoa só tem conhecimento daquilo que é a sua área. Elas não têm o conhecimento para a vida, mas sim para a profissão.
O grande problema de uma sociedade pobre é que as pessoas só sabem as suas áreas, e nada mais. Só o historiador entende de história. Só o geógrafo sabe explicar a geografia. Só o médico entende de medicina. Só o economista sabe economia. Só o advogado entende de direito. E assim, vamos fazendo uma sociedade óptima do ponto de vista financeiro e empresarial, mas péssima em cidadania. Não é de agora que observo isso. Quando ainda estava no curso técnico de informática do CEFET percebia como alguns profissionais da área tecnológica deixavam a desejar em outras áreas. Isso não é culpa deles. É o sistema. As pessoas aprendem para a profissão e muito pouco para a vida. É só perguntar a alguém que não tem problema do coração o que é arritmia cardíaca. Pergunte a alguém que não é da área de direito o que diz o artigo 5º. Ou seja, as pessoas só vão aprender certos conhecimentos da área de saúde quando estiverem doentes. Elas só vão conhecer seus direitos quando precisarem deles.
Esses donos do conhecimento acham que só eles podem falar de certos assuntos e que o que eles dizem é a pura verdade. Engano. Pois em qualquer área existe divergência e até na ciência existe mudança.
Eu como administrador gostaria muito que todo mundo entendesse de administração. Porque o conhecimento de administração não serve só para a profissão, mas também para a vida. Todos precisamos entender de estratégia ou como administrar nossas finanças. Todos devem entender de marketing, pois usamos o marketing na vida sempre.
Deve ser estranho para um médico, tão treinado tecnicamente, ter que perder tempo dizendo coisas básicas como: não coma isso, não faça aquilo, pratique exercícios, tome cuidado com isso. Simplesmente porque isso era o que todos já deveriam saber se tivessem um mínimo preparo na área de saúde. Claro que é legal para o médico dar esses conselhos, mas ele poderia estar falando de outras coisas mais complexas e menos acessíveis e de maior teor técnico. Do mesmo jeito é estranho saber que muita gente não conhece seus direitos a não ser quando precisa deles.
Um cidadão completo não é aquele que só sabe de saúde quando vai ao médico, ou só conhece geografia ou história se for formado na área, ou que só escreva bem se for escritor ou professor de português, ou que só conheça seus direitos se for advogado ou juiz, promotor, ou que tenha que passar anos numa faculdade para adquirir conhecimentos tão básicos para sua vida no meio social. O verdadeiro cidadão é aquele que entende o suficiente de cada área básica da sociedade para não ter que depender dos profissionais para saber coisas básicas sobre saúde, direito, política, etc. Mas, enquanto o conhecimento adquirido durante séculos pela sociedade for restrito apenas ao profissional, naturalmente monopolizado por ele, estaremos muito longe de sermos verdadeiros cidadãos no século XXI.
E finaliza, Win, esta dissertação “no reino do Conhecimento”, com duas conclusões: nenhum profissional é dono do conhecimento, e deve atrair o mérito para si, pois todo o conhecimento adquirido pela humanidade é oriundo do ser humano, seja ele formado ou não, profissionais ou não, pessoas que foram além da paixão profissional para contribuir para a riqueza do conhecimento humano.” Para alcançarmos uma sociedade mais inteligente é preciso evitarmos que o conhecimento humano se perca no profissionalismo, e os não profissionais sejam limitados a um mundo pobre e ignorante. É preciso democratizar o conhecimento e separar conhecimento básico para o exercício da cidadania de conhecimento técnico para o exercício da profissão”.
Porque os artigos valem o que valem, e o Conhecimento não se começa ou extingue em qualquer lugar do hiperespaço, Win, este pensador colaborativo auxiliar como tantos que o hiperespaço felizmente consente, entre Adam Smith, Fayol, um arremedo de materialismo histórico e científico - que abarca Marx - alguma confusão conceptual, algumas afirmações que provam que a generalização trás ao de cima muita ignorância, trás no entanto para o debate algumas ideias. A ideia de monopólio do Conhecimento e das suas Profissões, a ideia de uma correlação entre Profissões e a boa ou má cidadania, e a ideia geral de um conhecimento que não se esgota nas Profissões e que eventualmente fará de todos, não Profissionais do Conhecimento especializados e compartimentados em novos espaços corporativos, agora do Conhecimento, mas verdadeiros Profissionais Holísticos do Conhecimento.

7. DA CONCLUSÃO E DE COMO NO FUTURO SE TENTARÁ PERCEBER MELHOR O QUE SÃO OS TRABALHADORES DO CONHECIMENTO E DO… DESCONHECIMENTO.
Não pretendeu este trabalho “indiciado” ao estilo de Dante Alighieri, em 5339 palavras (mais coisa menos coisa), ser mais do que uma resenha com alguma reflexão, de e sobre, algumas informações que consegui carrear sobre os profissionais do conhecimento e suas características (ou mesmo uma micro - tese certinha sobre a temática), mas uma reflexão aprendizagem própria, mesmo se aparentemente caótica, mesmo se limitada nas conclusões no tempo, esse inimigo da clarividência e amigo das primeiras impressões dos TC e das suas eventuais características. Embora como corolário do trabalho, a conclusão começou a tomar forma a meio do trabalho, como ponto de ordem à cabeça do autor mestrando. Estava já bem claro a essa data, no entanto, como os Profissionais do Conhecimento se confundem muito com massa cinzenta, com extensividade em vez de intensividade, com libertação do trabalho mecânico automatizado e normalizado, com um mundo a várias vozes global no trato e universal no modo, com o domínio da máquina e a desrobotização do ser , com o serviço que tira partido do ser, com o espaço temporal encurtado - tipo a vida num segundo e um segundo na actual vida. Tudo isto, e mais quatro atributos como: autonomia, não estruturação, comprometimento, não partilha, enrodilhados em outros como não rotina, independência, autonomia, emergência, actualização.
Um dos aspectos actuais controversos de algumas Profissões do Conhecimento, ou mesmo de todas, tem sido a sua avaliação. Do mesmo modo como profissionais do Conhecimento com formações intensas são deixados sem avaliação para o resto dos seus tempos de desempenho, há obviamente necessidade de a sociedade assegurar, de forma descomprometida para uns e comprometida para outros, o seu melhor desempenho.
A produtividade da nossa administração, recheada de Institutos e de Profissões do Conhecimento, onde o Conhecimento é inversamente proporcional ao conhecimento dos seus resultados (mau grado os nichos de demonstração de excelência e de demonstração dessa capacidade) é um exemplo de fraca rentabilidade e de pouca avaliação objectiva do desempenho. Há, assim, que criar verdadeiras culturas amigas do conhecimento formas, alavancadas, de propiciação de resultados práticos, fazendo o aproveitamento das melhores práticas e CARACTERÍSTICAS DOS PROFISSIONAIS DO CONHECIMENTO.

Bibliografia
Davenport, T. H. (2007). Profissão : trabalhador do conhecimento : como ser mais produtivo e eficaz no desempenho das suas funções. Paço de Arcos: Exame.
PAULOS, M. R. (2009). Profissões do conhecimento na indústria: o caso dos designers do vestuário. Um estudo comparativo em três países europeus. Obtido de http://hdl.handle.net/10071/1889
Rodrigues, W. (15 de 11 de 2007). Os donos do conhecimento. Obtido de http://colunas.digi.com.br/wintemberg/os-donos-do-conhecimento/
Turban, E., R. Kelly Rainer, J., & Potter, R. E. (2003). Administração de Tecnologia da Informação. Rio de Janeiro: Editorial Campus.
Wikipedia. (2010). Knowledge_worker. Obtido de Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Knowledge_worker
http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/unpan/unpan031277.pdf

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom, fiquei muito surpresa ao ver que alguém (além de mim e dos meus orientadores) leram parte da minha tese de mestrado...
Margarida Paulos

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

Cara Margarida

Assim foi e assim se vai fazendo caminho. Agradeço-lhe o comentário e volte sempre.

Cumprimentos

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