sexta-feira, 20 de março de 2009

CORPSES OU O PODER DE DAR

Ainda há esperança, em Portugal, porque ainda há homens bons em Portugal. Homens que se preocupam com os outros homens, homens que não vivem desfasados do seu tempo e que se assumem num quadro mental solidário.
Homens que percebem que aquilo que é bom para si também tem de ser bom para os outros e que a virtude está na partilha e na entrega. Sem essa dimensão de humanidade, arriscamo-nos a não ser mais do que "CORPOS ADIADOS QUE NÃO CRIAM".
Não precisamos mais de arautos da verdade, precisamos de um novo paradigma de verdade e humanidade!
A Resposta de André Barata a Vítor Bento sobre a resolução da crise baseada em propostas económicas que levam a mais injustiça e desfasamento da "realidade do outro" enquadra-se numa tentativa de desmascarar mais este logro de um bodo, que se lembra de alguns nababos convivas mas que se esquece dos da casa. Afinal o fazer caminho não pode afastar brutalmente para o precipício todos os excluídos.


André Barata 18 Mar 2009 as 14:47

Caro Vítor Bento,Vamos lá a ver se me
consigo situar perante o que tem sido dito por si e por Silva Lopes sobre esta
matéria. Desculpe a extensão do comentário.
1. Aumentar a produtividade
através da redução dos custos com salários é fazer uma abordagem ao problema da
baixa produtividade pela negativa. Não duvido que tenhamos um problema
estrutural por resolver. Simplesmente acho que é sobretudo no outro membro da
equação da produtividade que deveremos procurar basear uma genuína melhoria das
condições económicas do país (e não apenas as financeiras). Sem mais e melhor
produção não há produtividade que resista. Cortar salários é remediar a
situação, não é curá-la.
2. Admito, porém, que, do ponto de vista social, o
desígnio de conter o aumento do desemprego obrigue a cortes salariais. Admito
isto graças ao que tem dito c/ mais insistência bem como indicadores
absolutamente deprimentes que nos chegam aos ouvidos quase diariamente. O que
Krugman diz para Espanha já está a acontecer em países bem mais ricos como o
Canadá, onde sei que, por exemplo, empresas têm reduzido o mês de trabalho em
dois dias. Mas, convenhamos, o contexto português não é o mesmo que se tem em
Espanha e menos ainda no Canadá. Dois factores deverão ser ponderados, com o
justo peso relativo, junto com a opção de cortes salariais em sede de
concertação social: por um lado, o baixo rendimento médio e o baixo salário
mínimo portugueses e, por outro, o desequilíbrio excessivo na distribuição de
rendimento em Portugal. Quando se diz que os portugueses têm vivido acima das
suas possibilidade, essa afirmação deve ser contextualizada com as que acabo de
proferir. Nenhuma delas é falsa. E todas elas devem ser ponderadas quando
procuramos encontrar soluções equilibradas e justas do ponto de vista social.
Pelas mesmas razões, quando comparamos o mesmo tipo de medidas em Portugal e,
por exemplo, em Espanha e no Canadá, devemos proceder à mesma ponderação, pois o
mesmo remédio proposto aos portugueses, espanhóis e canadianos terá um sabor bem
mais amargo no nosso caso. As circunstâncias raramente são as mesmas…
3.
Depois de tudo isto, dir-me-à possivelmente o seguinte: em que é que isso muda
substancialmente a alternativa com que estamos confrontados? A alternativa “Ou
menor remuneração ou desemprego certo” é uma alternativa incontornável que não
se compadece com as particularidades sociais do país. Concordo, mas é possível
procurar encontrar respostas mais sensíveis àqueles dois outros factores
relevantes. Por exemplo, i) reintroduzindo o critério dos 1000 euros - podendo
remunerações mensais acima desse valor ser renegociadas em concertação social,
mas não abaixo; ii) adoptando por regra que qualquer negociação em sede de
concertação social deve respeitar o princípio de não incremento da desigualdade
de distribuição de rendimentos; iii) respeitando escrupulosamente um princípio
de parcimónia e contenção relativamente às remunerações de topo (cargos
directivos de gestão, etc.); iv) criando um escalão adicional, em sede de IRS,
para rendimentos elevados.
4. Mas mais do que que tentar que a crise
económica não tenha um efeito socialmente devastador, é ainda possível pensar
políticas públicas sociais com efeito económico positivo. Uma espécie de “dois
em um” portanto. Como disse atrás, é preciso estímulos para mais e melhor
produção. Um desempregado a receber subsídio de desemprego é improdutivo. Por
que não propor financiar a desempregados iniciativas empresariais,
complementando os seus subsídios de desemprego c/ apoios que, sob acompanhamento
por técnicos especializados, lhes permitam vir a fazer parte da reconstrução do
tecido económico do país? Aliás, o exército de excluídos do processo económico
estende-se a muitos milhares de pensionistas que poderiam também ver aqui uma
janela de oportunidade. Por que não, então, constituir um gabinete de crise
composto pelos ministros da Seg. Social , das Finanças, da Economia,
respectivos secretários de estado, alguns técnicos competentes e montar uma
efectiva linha de contra-ataque à retracção económica que nos tem atingido?
Pode parecer que estou a devanear com um plano Marshall à portuguesa, mas antes
isso do que ver rios de dinheiro desperdiçados em operações de salvamento
discutíveis. Por que não fazer uso de políticas sociais realmente produtivas
para discriminar positivamente sectores de actividade económica mais promissores
do ponto de vista do objectivo de maiores taxas de produtividade, dando assim ao
Estado a capacidade indirecta de contribuir para um melhor “design” do tecido
económico do país?
Era também sobre isto que gostaria de ver
reflexão/acção/governação em vez de ter de me conformar com a fragilidade e
pobreza nacionais.
Saudações.

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