segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

KRUGMAN, O SPANISH PRISIONER E O DEGRADADO PORTUGUÊS

A leitura do texto de Krugman é um must e uma necessidade na percepção daquilo que está em jogo para todos os Portugueses, num tempo com FMI à vista que imporá aquilo que uma minoria teima em não querer ver.

A iliteracia económica de muitos dos nossos governantes e a falta de visão de futuro- e antecipação que se requer a um economista - que denotam as "  caixilharias"  de mau gosto e de pior qualidade, colocaram-nos nesta situação de mão dada com os restantes "  PIGS".
«Tentaremos comentar aqui um interessante artigo do economista Paul Krugman intitulado “The Spanish Prisoner” e publicado em finais de novembro do jornal New York Times e aqui traduzido pela nossa pena:
“A melhor coisa sobre os irlandeses neste momento é que eles são muito poucos. Por si só, a Irlanda não pode fazer muito para danificar o futuro da Europa. O mesmo pode ser dito em relação à Grécia ou a Portugal, que é geralmente visto como a próxima peça do dominó.”
» É verdade… No total, um “bail out” a estas três economias periféricas: Grécia, Irlanda e Portugal será equivalente a menos de 300 mil milhões de euros, isto é, menos de metade do Fundo Europeu de Emergência com os seus impressionantes 750 mil milhões de euros.
“Mas existe Espanha. Os outros são tapas, Espanha é o prato principal. O que é espantoso quanto a Espanha, numa perspectiva americana, é o quanto a sua história económica se assemelha à nossa. Como a América, a Espanha sofreu um grande aumento da dívida dos privados. Como a América, a Espanha caiu na recessão quando a bolha rebentou, e experimentou desde então um grande aumento do desemprego. E como a América, a Espanha viu o seu défice orçamental explodir à medida que as receitas se afundam e os custos da recessão disparam.”
» É verdade… existem duas semelhanças notáveis entre as economias norte-americanas e espanhola: um sector imobiliário que foi o “segredo” mal guardado do crescimento espanhol dos últimos anos e um setcor bancário alimentado por esta bolha. A crise de um, leva à crise de outro. E agora, estão em ciclo auto-alimentado e sem perspectivas de quebra a curto prazo e nada no orçamento recessivo vai resolver este problema.
“Mas ao contrário da América, a Espanha está à beira de uma crise de dívida. O governo dos EUA não tem problemas em se financiar, com taxas de juro de longo prazo inferiores a 3%. A Espanha, pelo contrário, tem visto os seus juros disparar nas últimas semanas, fazendo crescer os receios de uma bancarrota iminente.”
» No globo não há um problema de falta de liquidez. Não falta capital nos países do Golfo, nem na China, nem mesmo no Brasil ou noutros países ditos “emergentes”. Em todos eles se verificaram enormes transferências de Capital para os mercados financeiros americanos, financiando a sua dívida e os seus gigantescos défices comerciais. Esse dinheiro não desapareceu, continua a existir e tem sido aplicado nessas economias emergentes e nos EUA. Mas está a rarear na Europa… E a diferença é clara: só na Europa existe um Banco central estreitamente agarrado aos dogmas monetaristas, insistindo em manter uma moeda alta quando a China e os EUA embarcam numa guerra monetária. Só na Europa não existe um governo central que corresponda ao espaço monetário e onde economias completamente diferentes usam todas a mesma moeda.
“Porque é que Espanha está com tantas dificuldades? Numa palavra, é o Euro. A Espanha foi dos países mais entusiásticos na adopção do Euro, em 1999. E durante algum tempo as coisas correram bem: os Fundos europeus iam para Espanha, alimentando a despesa do sector privado e a economia espanhola conheceu um crescimento muito rápido. Nos melhores anos, o governo espanhol parecia ser um modelo de responsabilidade fiscal e financeira: ao contrário da Grécia, acumulou excedentes orçamentais e, ao contrário da Irlanda, tentou regular os seus Bancos. (…) e mesmo agora, os seus Bancos não estão em tão mau estado como os irlandeses.”
» É certo que o grande problema da economia espanhola é a bolha imobiliária e como esta contaminou toda a economia fazendo disparar a dívida privada e transmitindo uma falsa sensação de prosperidade. A Bolha afectou sobremaneira a Banca espanhola e já era identificada como tal por muitos economistas espanhóis em 2007, no auge da expansão económica espanhola. Então (e isso é total responsabilidade dos espanhóis e dos seus governantes) poder-se-ía ter regulado de forma mais eficaz a cumplicidade da Banca na expansão da Bolha e travá-la a tempo de ter evitado a sua detonação. Infelizmente, nada se fez…
“Durante a expansão, preços e salários subiram mais rapidamente em Espanha do que no resto da Europa, ajudando a criar um grande défice comercial. Quando a bolha estourou a indústria ficou com custos que a tornavam pouco competitiva comparada com a de outros países.”
» De novo e como em Portugal e na Grécia a adopção do Marco alemão, travestido como “Euro” induziu em economias muito diferentes da alemão uma serie de distorções que induziram uma falsa sensação de prosperidade devido à profusão de “crédito barato”. O problema espanhol aqui, é claro, como o de resto para todas economias periféricas: o Euro não é a moeda mais adequada às suas economias e mais não fez do que incentivar a subida descompensada dos padrões de consumo (à custa do crédito e intensificar o processo de tercialização das economias pela deslocalização das Indústria e da agricultura (esta última menos, em Espanha) que a Globalização e a sua adopção entusiasta por parte da maioria dos líderes europeus tinha desencadeado em começos da década de 90.
“E agora? Se Espanha ainda tivesse a sua moeda, como os EUA, ou como a Grã-Bretanha, poderia deixar cair a sua cotação internacional, devolvendo competitividade à sua indústria. mas com a Espanha no Euro, essa opção não está disponível. Pelo contrário, Espanha deve procurar formas de fazer uma “desvalorização interna”: cortando salários e custos”
» A alternativa a descer a cotação internacional do Euro é assim reduzir salários e a carga fiscal. Mas um e outro vão criar condições para que a economia entre numa severa recessão, já que o consumo privado cairá em flecha e que o Estado não poderá usar medidas keynesianas para compensar este declínio com medidas de estímulo… O Euro colocou assim as economias periféricas numa situação perigosa: para reagirem têm que entrar em Recessão ou… abandonar o Euro e recuperar a independência monetária.
“Mas uma “desvalorização interna” é um negócio muito sujo. Desde lado, é lenta. Pode levar alguns anos com alto desemprego para levar os salários para baixo. Além disso, quedas de salários implicam queda de rendimentos, enquanto a dívida se mantém a mesma. O que isto significa é que o futuro económico da Espanha nos próximos 10 anos é muito pobre.”
» Ou seja, para baixar os custos há que baixar os salários e esta solução “tradicional” implica arrastar Espanha e todas economias periféricas (como Portugal) para a Recessão durante pelo menos uma década e reduzir de uma forma muito significativa os rendimentos (e consumos) dos cidadãos dos países onde estas medidas recessivas forem aplicadas, com toda a perturbação social que inevitavelmente surgirá, com a redução da capacidade de intervenção dos Estados (devido à quebra de impostos e aumento das despesas sociais) e, sobretudo, com a evaporação de todos os ganhos em nível de vida dos últimos 20 anos. Esta é a alternativa a abandonar o Euro.
“A recuperação da América tem sido algo desapontante no que respeita ao Emprego, mas pelo menos conseguiu-se alguma retoma do PIB. A Espanha, por outro lado, nas recuperou. De todo. Será que a Espanha deve sair desta armadilha saindo do Euro e reestabelecendo a independência monetária? A resposta é: provavelmente não. A Espanha estaria hoje melhor se nunca tivesse adotado o Euro – mas tentar sair agora criaria uma grave crise bancária, com os depositantes a correrem para as suas contas. A menos que ocorra um colapso bancário algures num país da Zona Euro – o que é plausível para Grécia e cada vez mais possível para a Irlanda – é difícil ver como é que o governo espanhol queira correr o risco de se deseurizar.”
> é inegável: sair do Euro por vontade própria ou alheia (alemã) seria uma tempestade em mares já de si tempestuosos. O nível de dependência do crédito internacional é tão elevado hoje e os padrões de consumo tão distantes da independência produtiva, que uma saída brusca levaria a uma profunda recessão não só no país que saísse no Euro, como naqueles que o rodeiam. Mas o problema não é irresolúvel. O essencial aqui – para retomar a independência monetária e cambial – passa por travar o crescimento da dívida, incentivar a produção local e desencorajar as importações e começar a amortizar a dívida. Reencontrado o caminho da Produção (Primária e Secundária), de um Consumo sustentado e saudável e libertando as Economias do império dos Especuladores, é possível criar condições para deixar os alemães com o seu querido Marco-Euro, parece que muito adequado à sua Economia e tão inadequado às economias dos países periféricos.»

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