«Pode-se sempre dizer que qualquer tempo é um tempo de exigência para os intelectuais, embora os intelectuais não tenham uma história particularmente brilhante de “interpretação” dos tempos. Bem pelo contrário, os intelectuais têm uma história no século XX de participarem activamente nas grandes mentiras do século, fascismo e comunismo em particular [...] Mas, também por isso, tempos como os de hoje são particularmente exigentes para a réstia de função que ainda podemos atribuir aos intelectuais. Por duas razões: há uma enorme circulação de mentiras em curso, e há um enorme sofrimento na maioria das pessoas comuns e uma perda colectiva da esperança, em si mesmos, na sociedade, na democracia, no país. Esta é a crise perfeita, como a tempestade perfeita. [...] Foi tudo uma ilusão artificial, como agora nos dizem? Teve aspectos ilusórios, expectativas excessivas, mas não foi uma ilusão, foi uma melhoria. Não precisamos que nos venham dar lições morais com a parte da ilusão, para nos arrancarem as melhorias, porque a melhoria de vida dos portugueses deve ser defendida ao limite. [...] Daí as mentiras e a petulância [...] cujo melhor exemplo é o Orçamento do Estado e as sucessivas avaliações positivas da troika, peças de uma política cujos perigos dois ou três dias depois vem o FMI enunciar. [...] Na verdade, os portugueses também já “ajustaram” os governantes. “Miúdos”, “garotos”, como o povo manifestante bem intui, percebendo a sua inexperiência da “vida”, saídos da pior escola, carreiristas e espertos, obcecados pela “imagem” mediática, conhecedores de mil e um truques, tão vingativos como ignorantes, deslumbrados pelo seu poder actual, subservientes face a todos os poderosos, e que incorporaram um profetismo grandioso sobre “refundar” o país, que rapidamente se torna numa luta pela própria sobrevivência política, custe o que custar. O resto é expendable, no inglês técnico de que gostam. Pode ser que, mais uma vez, os intelectuais traiam, com a obsessão de respeitabilidade, o respeitinho moderado e o sufoco dos bens escassos para distribuir. Mas a obrigação do intelectual, como escreveu Emerson, é “anular o destino”, pensar para haver “liberdade”. Presos neste miserável destino, o sofrimento de muitos é uma efectiva ameaça à liberdade.»
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segunda-feira, 26 de novembro de 2012
BRILHANTE PACHECO PEREIRA NOS «INTELECTUAIS E A ANULAÇÃO DO DESTINO: NÃO HOUVE PROGRESSO?
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