quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A PERDA DE IDENTIDADE PELA FRACA ATENÇÃO DADA À HISTÓRIA E ARTES

«NÓVOA Há um pensamento notável de Olivier Reboul, filósofo francês (1925-1992). Ele diz que deve ser ensinado na escola tudo o que une e tudo o que liberta. O que une é aquilo que integra cada indivíduo num espaço de cultura, em determinada comunidade: a Língua, as Artes Plásticas, a Música, a História etc. Já o que liberta é o que promove a aquisição do conhecimento, o despertar do espírito científico, a capacidade de julgamento próprio. Estão nessa categoria a Matemática, as Ciências, a Filosofia etc. Com base nesse princípio, podemos selecionar o que é mais importante e o que é acessório na Educação das crianças.»

Hoje cada vez mais se percebe a necessidade da transmissão daquilo que une, para o país que é portugal.
A pouca atenção dada às artes e à história não cimenta um país já pouco solidário consigo próprio! 

UM CANO PELO CÚ POR JUAN JOSÉ MILLAS


Juan José Millás. 
«Se percebemos bem – e não é fácil, porque somos um bocado tontos –, a economia financeira está para a economia real como o senhor feudal está para o servo, o amo para o escravo, a metrópole para a colónia, o capitalista manchesteriano para o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo de classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental o faz com o corpo de uma criança num bordel asiático.
Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de ter sido semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tomes conhecimento da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que no decorrer desse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer. Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas – e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira.
Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco filho da puta compra, em geral, é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita de verdade à meia-noite. Um país que, na perspetiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.
A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional, a do tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe o caráter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para um concurso. Nada disso conta para a economia financeira nem para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país – este, ao acaso –, e diz "compro" ou "vendo" com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.
Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública – onde estas ainda existirem – os filhos, também eles produto de consumo desse exército de cabrões protegidos pelos governos de meio mundo mas sobreprotegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, em termos mais simples, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto estás a ler estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres.
E não são desviados num movimento racional, nem justo nem legítimo, são-no num movimento especulativo incentivado por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro. Tu e eu, com a nossa febre, com os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, com o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Já somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.
A ti e a mim, estão a pôr debaixo do comboio uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou chamada juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com ruturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas ações terroristas que ficam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até as ganham, e porque atrás deles há importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.
A economia financeira, se começamos a perceber, significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um cabrão com os documentos todos regulares. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A atividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam os gráficos.
Estão a alterar o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém dê solução; mais, enviando as forças da ordem contra quem tenta dar soluções. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger esse filho da puta que te vendeu, recorrendo a um burla autorizada, um produto financeiro, quer dizer, um objeto irreal no qual tu investiste, provavelmente, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumo, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que já são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.
Na economia real, para que uma alface nasça, é preciso semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, é preciso colhê-la, claro, e embalá-la e distribui-la e faturá-la a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora estão a reduzir porque a economia financeira tropeçou e é preciso tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está dedicada a sugá-lo, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passe a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.
Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos.
Juan José Millasé um escritor espanhol. Alcançou a consagração literária com a obra "El desorden de tu nombre". Em 1990 obteve o prémio Nadal com "La soledad era esto". Atualmente alterna a sua dedicação literária com numerosas colaborações na imprensa. É professor da Escuela de Letras de Madrid desde a sua fundação.
Publicado no El País

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O BOM EXEMPLO

Hospital vende viaturas para formar pessoal

Caso registou-se no Centro Hospitalar de Guimarães

terça-feira, 28 de agosto de 2012

IGCP: GANDA PASSOS! ENGANA PORTUGAL!

O governo optou por converter o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP) em empresa pública. Ontem foram publicados os respectivos estatutos, os quais determinam o direito à média de vencimentos que os três gestores auferiram nos últimos três anos. Resultado: mais uma excepção ao tecto salarial dos gestores públicos, o qual corresponde - na letra- ao salário do primeiro-ministro.

IEFP: FAZER PELA VIDA!


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

1% DOS AFORRADORES DETÉM UMA MÉDIA DE 1.625.000€

Muitos dos ligados ao actual governo (como muitos anteriormente ligados ao anterior) continuam a afirmar que a situação a que chegámos se deve a um consumo excessivo por parte da população em geral.

Dados hoje saídos afirmam, entretanto, que só 1% dos que têm poupanças nos bancos representam cerca de  65.000 M€, sendo que aos restantes depositantes se devem 93.000 M€.

Ora se pensarmos que este número é baseado em cerca de 4.000.000 de depositantes, rapidamente chegamos ao maior problema de todos (nomeadamente o que extravasa a própria distribuição por meios lícitos).  

É que 1% são 40.000, o que significa uma média de 1.625.000 € para cada um destes aforradores. 

Ao invés os restantes 3.960.000, detém uma média de 23.485€.


PAULO MORAIS: PARA MAIS TARDE RECORDAR!


Paulo Morais deixa-nos este testemunho bem realista, desvendando como o dinheiro dos nossos impostos, está desde sempre, condenado e com destino marcado, na mão de gananciosos sem escrúpulos e sem lei. 

"Armando Vara ou Dias Loureiro concluem as suas carreiras como empresários de sucesso. E ricos.
Porque será que tantos políticos se dedicam à vida empresarial? E o que irão eles fazer para as empresas? Negócios com o Estado, claro está. Quase sempre. Negócios de milhões. Os lugares dourados em empresas do regime são, aliás, o destino final das carreiras políticas dos mais habilidosos.
Armando Vara ou Dias Loureiro (e muitos de igual jaez) não teriam provavelmente sucesso em qualquer outro país. Mas por cá, graças à política, concluem as suas carreiras como empresários de sucesso. E ricos. Porque o regime compensa carreiras que são construídas de pernas para o ar e ao arrepio de toda a competência.
Na Europa ou nos Estados Unidos da América, os bons profissionais saem das universidades, vão trabalhar em empresas e instituições, criam riqueza. Depois de terem provado que sabem fazer alguma coisa de útil, alguns optam por disponibilizar os seus conhecimentos ao serviço da comunidade. E aí iniciam uma participação política. No final das suas carreiras, muitos vão para as universidades transmitir o saber que adquiriram ao longo da vida.
Em Portugal, o percurso é bem diverso. Concluída a formação universitária, os dirigentes partidários anseiam por um cargo político. Para o qual são nomeados por via do seu currículo partidário e jamais por qualquer competência académica ou profissional.
Empossados em funções públicas, a maioria logo esquece o povo e até a lei. Exerce o seu lugar ao serviço da teia perversa de negócios em que os partidos estão envolvidos. Ao fim de alguns anos, instala-se comodamente num qualquer "tacho" duma empresa privada, auferindo milhões.
Poderiam eles ser administradores em empresas de referência de países desenvolvidos? Obviamente que não. Apenas obtêm estes lugares porque no exercício das suas funções públicas favoreceram os grupos privados, que agora os gratificam. E que os recompensam pelo prejuízo que provocaram ao Estado português. Prejuízo que continuarão, aliás, a causar, obtendo favores do Estado para os grupos dos quais agora são assalariados. E para os quais afinal sempre trabalharam, mesmo enquanto políticos." CM

IGCP DE IP PARA EP: QUAL O SIGNIFICADO DESTA "OPERAÇÃO"?




IGCP torna-se numa empresa pública

Já a partir do próximo sábado, dia 1 de setembro

domingo, 26 de agosto de 2012

O POLVO!

Carta do Canadá: Portugal desamparado

«Com a lentidão meditativa  a que obrigam as informações importantes,  acabo de ler  uma obra de Marc Roche que, nestes tempos incertos de Pátria e Europa,  todos devíamos ler:  O BANCO – Como o Goldman Sachs Dirige o Mundo. Ficamos a saber que, de forma secreta, praticamente de seita, laboriosamente,  persistentemente, ao longo dos anos, o Banco Goldman Sachs adquiriu a configuração de um polvo monstruoso, cujos tentáculos, sob a forma de homens de mão, está infiltrado em toda a parte. Objectivo: empobrecer países mal governados e passar o seu património para o capital selvagem e sem pátria.  Tudo isto o autor denuncia com grande pormenor e acervo de provas.
Na União Europeia, os homens principais do Goldman Sachs são Mario Draghi (presidente do BCE) e Mario Monti (primeiro ministro de Itália). O autor descreve, ao pormenor, as golpadas do banco sobre a Grécia, com a colaboração de governos da direita e da esquerda, para grande proveito e regozijo dos banqueiros alemães.
Em Portugal, segundo Marc Roche, os tentáculos do Goldman Sachs são António Borges, Carlos Moedas e, de forma sonsa, Victor Gaspar. Todos os figurantes da coisa pública  que com eles colaboram servilmente, são a repetição gananciosa e sem escrúpulos dos que, em 1580, entregaram Portugal à Espanha a troco de fortunas e títulos. Toda uma elite negativa e traidora que,ontem como hoje, cabe no grito desesperado de Almada-Negreiros: “maquereaux da Pátria que vos pariu ingénuos / e vos amortalha infames”.
Percebem-se agora claramente as privatizações ao desbarato em que o actual governo se tem empenhado, com o precioso serviço dos nunca por demais louvados Mexias, Catrogas, Montezes  e quejandos. E é agora claro o porquê das declarações de António Borges, primeiro a preconizar a descida dos salários,  depois a anunciar o desmantelamento da RTP  e a sua entrega a capitais privados que, para além de passarem a viver (à grande) com subvenções  milionárias  pagas pelos contribuintes, teriam inteira liberdade para despedir quantos funcionários quisessem. Ainda por cima com o conforto de uma empresa que passou, com a administração actual, a dar lucro.
A ausência de Relvas, grande mainato do capital obsceno, tem uma leitura: percebeu que ninguém o quer ver, nem pintado.  A atrapalhada explicação de Aguiar Branco, como se um ministro da Defesa fosse chamado para este assunto, quando o que lhe incumbe são submarinos, imersos ou submersos num mar de cobardia, tem uma leitura: toda esta gentinha tem vivido na maior impunidade, com a Justiça em cadeira de rodas,  de boca fechada e venda nos olhos. Fica de pernas bambas, essa gentinha, quando percebe que o país não  está completamente adormecido. Ainda reage ao desaforo, para grande surpresa de um primeiro ministro a quem sobra em pesporrência o que lhe falta em idoneidade.
Todos os países do primeiro mundo têm a sua televisão e rádio estadual que, pelo facto de garantir o pluralismo informativo e o património cultural colectivo, tem de ser subsidiada para não ficar sujeita à chantagem do capital via publicidade. São meios de comunicação prestigiados e respeitados.  Todos os países do primeiro mundo têm por garantido que o chefe do estado é obrigado a defender o país dos maus governos. E em Portugal como é?  Como tem sido?  Um PR que se cala quando deve falar, que fala quando deve estar calado, que na maior parte dos casos diz banalidades ou defende o que nunca deveria defender.
Restamos nós, o povo.  E somos muitos. É tempo de reflectir numa afirmação recente do jornalista Joaquim Letria: “Há  mais do que motivos para a insurreição popular e intelectual”.»