É curioso que no meio dos amores e desamores a este governo há algo que
ninguém me sabe (ou quer) responder. Todos percebemos a necessidade do
ajustamento orçamental e do estado de quase excepção em que caímos,
vitimados por uma elite de poder (infelizmente diferente das verdadeiras
elites). Ontem uma jovem que preparava as malas para emigrar para a
China dizia «dizem que o país está crivado de endividamento mas eu nunca
contribui para ele. E querem me fazer pagar por aqueles que se
locupletaram seja através da manipulação legislativa e/ou do conúbio
político - económico, com os bens públicos».
Mas há vários caminhos e várias velocidades para este ajustamento que mantenha incólume o tecido produtivo.
Acha
PC que o actual governo está a ir às verdadeiras gorduras do Estado e
dos rentários? Acha PC que o PSD tem actualmente uma política social
democrata digna de Sá Carneiro? Acha PC que o caminho da competitividade
se faz destruindo totalmente o mercado interno, expulsando camadas do
país para fora do mesmo, destruindo as PME's e aumentando os custos de
contexto (aumento anunciado das rendas, da água,) que vão aumentar ainda
mais a falta de competitividade da nossa economia e agravar as
desigualdades que para além de um problema social é um problema
económico? Acha PC que não há um total contra-senso entre quem fala na
necessidade de diminuir custos salariais e ter uma economia de 1 mundo?
Acha
PC que qualquer economista que se preze acredita na tese de políticas
públicas cíclicas quando a economia é a quase ciência do contra ciclo?
Acha
PC que não havia alternativa no ajustamento que aumentar ainda mais os
impostos... mais que diminuir as verdadeiras despesas que alimentam um
sistema político obsoleto (comecem por exemplo por extirpar os luxos na
AR com os restaurantes de luxo que tem pelo menos o efeito de alienar os
representantes do povo dos seus representados).
Acha PC que
muitos dos actuais ministros querem ter uma atitude reformista à força
quando a alteração de muitas das políticas exige separar correctamente o
que está bem do que está mal, não erigindo o povo Português em alvo de
políticas experimentalistas ou de aprendizagem dos agentes (o Prós e
Contras de ontem sobre agrupamentos em educação ajudou a perceber como
se não deve actuar).
Alguém fala do problema da concentração do nosso tecido comercial que tanto mal tem feito ao país?
Alguém fala do problema gravíssimo da natalidade em Portugal?
Alguém fala da necessidade de uma análise rigorosa ao processo BPN, BPP e PPP que cavaram o pedido de resgate?
Acha PC que a Troika conhece as especificidades do tecido empresarial Português?
Acha PC que todas as medidas da Troika estão eivadas de uma enorme bondade?
Acha PC que não é necessária uma visão de estado e de estadista a um responsável político?
Acha PC que Passos tem competência e conhecimento suficiente para ser PM deste país?
Acha PC que um país se reforma e se refaz contra a maioria do seu povo?
Acha PC que um país pode ter realmente 20% dos seus activos sem contribuir para o todo nacional?
Séculos
de inquisição, polícias políticas e elites do poder sempre formataram o
país naquilo que ele tem de pior: a sua incapacidade de ouvir e
congregar todos, uma enorme ambição provinciana, a sua intolerância e um
grupismo empobrecedor.
Sempre me achei um social democrata. O que não implica que não encontre mérito em muitas propostas e análises da esquerda à direita.