Há poucos dias li um artigo que alvitrava que os fóruns eram, na sua maioria, espaços de vaidade onde nos cruzávamos no espaço público, como antigamente a burguesia cínica Lisboeta de chapéu na mão e sinalética educada, mas de exclusivo bom tom, de bom dia.
Não concordo em absoluto, porque podem também ser espaços de diálogo mas também de abano das consciências de um país que gosta de surfar as ondas mas não de as enfrentar - os procedimentos estão errados, mas não faças ondas porque te prejudicas; isto está errado, mas o chefe é que manda; não há justiça, como já muito deixou de haver polícia na rua, mas de quem é a responsabilidade? o Presidente disse uma enorme calinada, mas saiu-te da boca um enorme sorriso alarve subserviente à espera de "prebendas"; aquele tipo é corrupto, mas isso não é contigo, é um problema da justiça - e por aí adiante.
Todos sabemos que o nosso país necessita de reformas profundas, reformas que não se podem situar apenas nas instituições mas necessitam se alargar à própria sociedade. Uma sociedade solidária, enxuta, moderna, educada, respeitadora, não elitista e inclusiva de todos e de todos os argumentos. Uma sociedade que saiba calar-se, ouvir e efectivar trabalho - mais do que falar.
E é por isso que concordo com FRoxo, Quelhas da Mota e PMP. As coisas são tão sérias, os vícios tão "ruins", que exigem não a inação da palavra mansa, mas palavras duras e acção.
Podemos continuar a viver, como a quase generalidade de nós fez, num país faz de conta. Faz de conta que não nos estamos a endividar de mais; faz de conta que vivemos num país de repartição justa; faz de conta que aquilo que "vencemos" equivale ao que produzimos; faz de conta que somos solidários uns com os outros; faz de conta que já não estão os diagnósticos todos feitos; faz de conta que há uma enorme qualidade nas nossas instituições e que não vivemos da falta de mérito, da cunhazinha, do compadrio, do tráfico de favores e influências. Faz de conta que não há responsáveis pelo estado a que chegámos; faz de conta que não há nas nossas instituições gente que rouba, que mata, que desvia, que manipula, que se aproveita em causa própria, que legisla em causa própria, que não merece comendas. Faz de conta que muitos dos nossos grandes empresários não enriqueceram à conta dos pequenos e esforçados empresários e accionistas; faz de conta que o nosso problema não é de concorrência e monopólio; faz de conta que o regulador, regula e não está sujeito a sequestro de regulador, ...
Olhando para este rol de faz de conta, percebemos que não é de educação formal que necessitamos, mas de educação pelos valores, pela ética, pela cidadania, pelo desprendimento (muito me rio quando alguns alvitram a necessidade de os melhores serem chamados à vida pública apenas por melhores remunerações. O mercenarismo não faz parte, pela certa, do catálogo do perfil de desinteresse do servidor do bem público. Quem quer mais vencimento não tem obviamente o perfil!).
O mérito no acesso ao cargo público, ao cargo dirigente, à Universidade, é uma palavra erradicada há muito do nosso vocabulário.
Como todos os faz de conta e das generalizações há, obviamente, excelentes excepções ao faz de conta. O negativismo também tem de se combater, mas possivelmente é necessários destilá-lo todo para começar a positivar.
E o que faz a maior parte da nossa elite, conivente há muito com este estado de coisas? Desfolha da esquerda à direita o catálogo das boas intenções, do comodismo ao oportunismo, do deixa andar ao "virão melhores dias".
A Universidade só sairá do marasmo quando se abrir à sociedade (exigência de estudo e sentido crítico sem o retorno ao mérito do papagueanço - que parece a nova moda de quem não sabe em que século está, que não sabe que a educação é para a vida sem término à vista), quando a rotatividade permitir os melhores em cada momento (actualização), quando passarmos da análise mais ou menos inócua à prática da mudança.
A Universidade (com as necessárias excepções de boas práticas e de excelência) hoje é um corpo que se auto-sustenta. Podia-lhe falar de algumas, como a Universidade de Letras de Lisboa, onde aparenta morar a inacção, a desmotivação e a incompetência.
Mas a Universidade é o espelho do país. Um país sem esperança regressado às práticas do assistencialismo, é um país sem futuro, sem "existencialismo" e sem sentido crítico.
De resto, com a atenção que me merecem todas as críticas e observações, concordo consigo. A crítica pela crítica não contribui para o desenvolvimento do tema, mas quem quer daqui a 20 anos estar a repisar vezes sem conta as mesmas debilidades e os mesmos argumentos?
Mereceremos mesmo existir e ser "notados" como país ou continuaremos raquíticos nos nossos espaços de conforto a ter o medo de existir identificado por Gil?
Não concordo em absoluto, porque podem também ser espaços de diálogo mas também de abano das consciências de um país que gosta de surfar as ondas mas não de as enfrentar - os procedimentos estão errados, mas não faças ondas porque te prejudicas; isto está errado, mas o chefe é que manda; não há justiça, como já muito deixou de haver polícia na rua, mas de quem é a responsabilidade? o Presidente disse uma enorme calinada, mas saiu-te da boca um enorme sorriso alarve subserviente à espera de "prebendas"; aquele tipo é corrupto, mas isso não é contigo, é um problema da justiça - e por aí adiante.
Todos sabemos que o nosso país necessita de reformas profundas, reformas que não se podem situar apenas nas instituições mas necessitam se alargar à própria sociedade. Uma sociedade solidária, enxuta, moderna, educada, respeitadora, não elitista e inclusiva de todos e de todos os argumentos. Uma sociedade que saiba calar-se, ouvir e efectivar trabalho - mais do que falar.
E é por isso que concordo com FRoxo, Quelhas da Mota e PMP. As coisas são tão sérias, os vícios tão "ruins", que exigem não a inação da palavra mansa, mas palavras duras e acção.
Podemos continuar a viver, como a quase generalidade de nós fez, num país faz de conta. Faz de conta que não nos estamos a endividar de mais; faz de conta que vivemos num país de repartição justa; faz de conta que aquilo que "vencemos" equivale ao que produzimos; faz de conta que somos solidários uns com os outros; faz de conta que já não estão os diagnósticos todos feitos; faz de conta que há uma enorme qualidade nas nossas instituições e que não vivemos da falta de mérito, da cunhazinha, do compadrio, do tráfico de favores e influências. Faz de conta que não há responsáveis pelo estado a que chegámos; faz de conta que não há nas nossas instituições gente que rouba, que mata, que desvia, que manipula, que se aproveita em causa própria, que legisla em causa própria, que não merece comendas. Faz de conta que muitos dos nossos grandes empresários não enriqueceram à conta dos pequenos e esforçados empresários e accionistas; faz de conta que o nosso problema não é de concorrência e monopólio; faz de conta que o regulador, regula e não está sujeito a sequestro de regulador, ...
Olhando para este rol de faz de conta, percebemos que não é de educação formal que necessitamos, mas de educação pelos valores, pela ética, pela cidadania, pelo desprendimento (muito me rio quando alguns alvitram a necessidade de os melhores serem chamados à vida pública apenas por melhores remunerações. O mercenarismo não faz parte, pela certa, do catálogo do perfil de desinteresse do servidor do bem público. Quem quer mais vencimento não tem obviamente o perfil!).
O mérito no acesso ao cargo público, ao cargo dirigente, à Universidade, é uma palavra erradicada há muito do nosso vocabulário.
Como todos os faz de conta e das generalizações há, obviamente, excelentes excepções ao faz de conta. O negativismo também tem de se combater, mas possivelmente é necessários destilá-lo todo para começar a positivar.
E o que faz a maior parte da nossa elite, conivente há muito com este estado de coisas? Desfolha da esquerda à direita o catálogo das boas intenções, do comodismo ao oportunismo, do deixa andar ao "virão melhores dias".
A Universidade só sairá do marasmo quando se abrir à sociedade (exigência de estudo e sentido crítico sem o retorno ao mérito do papagueanço - que parece a nova moda de quem não sabe em que século está, que não sabe que a educação é para a vida sem término à vista), quando a rotatividade permitir os melhores em cada momento (actualização), quando passarmos da análise mais ou menos inócua à prática da mudança.
A Universidade (com as necessárias excepções de boas práticas e de excelência) hoje é um corpo que se auto-sustenta. Podia-lhe falar de algumas, como a Universidade de Letras de Lisboa, onde aparenta morar a inacção, a desmotivação e a incompetência.
Mas a Universidade é o espelho do país. Um país sem esperança regressado às práticas do assistencialismo, é um país sem futuro, sem "existencialismo" e sem sentido crítico.
De resto, com a atenção que me merecem todas as críticas e observações, concordo consigo. A crítica pela crítica não contribui para o desenvolvimento do tema, mas quem quer daqui a 20 anos estar a repisar vezes sem conta as mesmas debilidades e os mesmos argumentos?
Mereceremos mesmo existir e ser "notados" como país ou continuaremos raquíticos nos nossos espaços de conforto a ter o medo de existir identificado por Gil?