«O dogma de quem governa hoje em Lisboa é que não há alternativa ao regime de indigência colectiva assinado com a troika. O Orçamento de Estado português para 2013 é um marco histórico. Põe fim a uma época ao rasgar o contrato com uma sociedade que, após a Revolução dos Cravos, sonhou ser outra coisa do que aquilo que hoje, sem dó, a «Europa» lhe diz que é: já não o novo-rico entre os pobres mas o velho-pobre entre os ricos. O orçamento, corolário de uma inclemência ideológica lancinante, anuncia uma era de trevas. É o réquiem pela III República. É um orçamento que concretiza o desmantelamento acelerado do Estado social construído em e pela democracia. Isto, em si, não é apenas uma tragédia portuguesa mas, em primeiro lugar, um ruidoso fracasso europeu. Na construção como na demolição, os maiores sonhos e as maiores loucuras em Portugal têm e tiveram as oportunidades e os limites permitidos pelos interesses dos nossos fiéis amigos estrangeiros. Foi assim que tivemos o nosso império e que, acessoriamente, mantivemos o holograma a que chamamos a independência nacional.
Excerto do ensaio-manifesto «Portugal - finis terrae», de Pedro Rosa Mendes, publicado na edição de janeiro da LER.»
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
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