Antes de mais caro Rui Moreira agradeço-lhe
a participação, embora discordando de si neste particular - que não em muitas das suas reflexões sobre a sociedade portuguesa e o momento presente.
Porque se é verdade que a
democracia participativa acarreta riscos, não é menos verdade que esses riscos
se estendem a todas as formas de participação - também explicadas pela
sociologia e não envolvendo menores riscos - pela degradação acentuada da
perceção democrática ocasionada pelo contínuo rapto da democracia (extensiva
muitas vezes à má comunicação social, que confunde comunicação social com a voz
dos donos).
A pseudo - democracia em que
vivemos, aquilo que a ciência política denomina de sistema parlamentar de
primeiro - ministro, dificilmente se regenerará e estará sempre à mercê de
lealdades contrárias aos interesses da maioria do povo (não há almoços grátis e
muito menos eleições grátis!)
A crescente escolarização de
grandes massas do povo português e a «chamada» à política como virtude
(infeliz) desta crise, não pode estar dependente de representantes (mesmo os de
boas intenções) submergidos e dependentes como eleitos nos interesses
(dificilmente alguém neste sistema político conseguirá ser eleito pelos seus
méritos, e mesmo que o seja rapidamente perceberá o seu limitado poder face ao
poder das corporações e dos interesses instalados de uma sociedade ainda muito de
«antigo regime», e de nobreza de corte; nem ninguém consegue ser um fiel
tradutor da maioria).
O exemplo que deu no outro dia
no Econometrix dos progons irracionais da sociedade portuguesa (estou-me a
lembrar de como até estudantes da universidade tiveram de ser travados pelo
reitor em tempos de inquisição, contra as barbáries contra os judeus) dos
populismos irracionais, são no fundo reação a democracias «mal construídas».
O populismo bate-se pela difusão
do conhecimento, pela chamada à participação e pela educação pelo civismo, não
pela (im) participação ou por eleitos repletos de «verdades substanciais».
É verdade que há aqui uma
responsabilidade de todo um povo, muito alheado dos actos políticos, como se a
política não fosse escolha de todos os dias.
Mas, também, de falta de
propostas entre um coletivismo que a maioria não apoia e um liberalismo dos
interesses, como se não pudesse a cada momento pensar nas melhores alternativas
como uma interceção de subconjuntos do conjunto maior, a democracia.
Um regime participado exigindo
maior responsabilidade e transparência a cada um de nós, não me parece que não
seja já exigência do presente e que devamos ainda tentar formas uninominais de
participação. Essa etapa pela exigência de participação dos povos nos seus
interesses parece-me já desfasada da realidade dos tempos.
Como dizia Lula (o fazer seria
talvez um exemplo da sua falta de correspondência) a única coisa que se pede à
democracia é «Fazer O Óbvio!»
E o óbvio é, infelizmente,
todos os dias violado pelos ditos representantes das democracias representativas
que se esquecem rapidamente dos seus deveres para com os representados e que
pensam ter tirado um «ticket a 4 anos».
De resto, caro Rui Moreira,
obrigado pela sua clarividência relativamente à necessidade ingente de mais e
verdadeira concorrência na economia portuguesa (…)
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