«Parte da inflação resulta do rápido crescimento do crédito, em particular do crédito ao consumo.
Lauro de Freitas divide-se entre as sumptuosas vivendas à beira-mar e as favelas a perder de vista. Este município de Salvador, capital do estado da Baía, tem numerosas razões para estar agradecido ao homem que este ano deixou a presidência do país. Cerca de 40% das famílias do município não só recebem a "Bolsa de Família", esquema de protecção social criado pelo governo de Lula da Silva, como têm acesso a outros programas governamentais, como a habitação subsidiada e o Restaurante Popular, que serve almoços baratos aos mais carenciados.
Lauro de Freitas é um dos exemplos de maior sucesso do "Lulismo", combinação de estado social com generosos aumentos salariais, acesso fácil ao crédito e gestão económica estável - um modelo que terá retirado 33 milhões de pessoas da pobreza durante os oito anos em que esteve na presidência.
A América Latina olha para o "Lulismo" como uma das soluções possíveis para pôr fim a séculos de desigualdade e escasso desenvolvimento. No Brasil, porém, receia-se que esta fórmula tenha os dias contados. Na última década, o gigante sul-americano tornou-se uma importante potência, a par das emergentes China e Índia, mas, tal como elas, também começa a dar sinais de sobreaquecimento.
Ora, o Brasil gasta acima do rendimento e investe pouco. A inflação e a alavancagem dos consumidores têm vindo a aumentar e a moeda local, o real, fortaleceu cerca de 46% em dois anos e meio. Os pessimistas avisam que o modelo Lula pode degenerar numa bolha de crédito, enquanto os optimistas defendem a necessidade de fazer escolhas estratégicas e de aprofundar as reformas para o país poder sustentar o ritmo do crescimento anual.
O ‘boom' global nos preços das matérias-primas melhorou o desempenho comercial do Brasil em 30% - a diferença entre o que ganha com as exportações e o que paga pelas importações -, mas em vez de usar uma parte para reduzir a dívida e estimular a poupança, o país tem gasto tudo em importações adicionais, gerando um défice da balança de transacções correntes (BTC) na ordem dos 2,3% do PIB no ano findo em Maio.
Este ‘gap' tem sido financiado por investidores globais interessados no crescimento rápido do Brasil. O governo tem tentado limitar os fluxos de investimento estrangeiro através de controlos de capital, que degenerou numa "guerra monetária", mas entretanto abriu-se outra frente de batalha: a inflação. A subida dos preços ao consumidor já ultrapassou a meta do banco central, de 6,5%, que se viu obrigado a aumentar as taxas de juro quatro vezes este ano, situando-se actualmente nos 12,25%.
Parte da inflação releva do rápido crescimento do crédito, em particular do crédito ao consumo. Há observadores que alertam para uma eventual crise de crédito ao consumo, no entanto, o que importa saber é por quanto mais tempo pode a economia manter o mesmo ritmo de crescimento. O banco central prevê que o crédito cresça 15% este ano, mas não há consenso sobre o grau de endividamento que as famílias podem suportar.
Para os economistas, o Brasil tem de compensar o abrandamento no crédito ao consumo com mais investimento em infra-estruturas e na Educação, bem como melhorar a produtividade e reforçar o envolvimento do sector privado, porque embora o consumo e o crédito sejam importantes por si só não bastam.
Apesar de tudo, o milagre económico do Brasil continua intacto. Estima-se que o crescimento atinja, este ano, uns respeitáveis 4%, mantendo a média alcançada durante o "consulado Lula". O Brasil, enquanto anfitrião do Mundial de Futebol em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016, raramente teve melhor oportunidade para desmistificar o chavão que o tem perseguido: "o país do futuro, cujo futuro é sempre adiado".» Joe Leahy, traduzido por Ana Pina para o Económico
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terça-feira, 19 de julho de 2011
SOBREAQUECIMENTO BRASILEIRO!
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