Irlanda. Dada como outro bom exemplo. A mentira! Dos ingénuos, ou nem por isso!
«Um dos problemas essenciais na Irlanda é que as políticas adoptadas pela troika «não estão a produzir resultados tangíveis». «As pessoas esperavam que ao fim de três orçamentos de austeridade haveria um sinal de esperança, mas isso não está a acontecer. Ao contrário do período de 87-90, o governo prepara-se para apresentar o orçamento mais duro e afirma que poderá haver mais dificuldades. Isto está a convencer as pessoas que os cortes pelos cortes não surtem resultado. Existe uma sensação cada vez mais presente de que este orçamento vai cortar tanto que algumas pessoas não vão mesmo conseguir pagar», considerou o analista político Johnny Fallon.
Quanto ao acordo recente da Grécia, que conseguiu melhores condições para pagamento da sua dívida, esta é uma questão que está a levantar debate na Irlanda, à semelhança de Portugal. «Claramente também vamos preciasar de um acordo quanto à dívida», disse o analista político, acrescentando: «A União Europeia já não tem esperança em relação aos países com dificuldade de crescimento e as pessoas ficam consignadas a uma austeridade infindável, enquanto outros fazem política na Europa».
A Irlanda pode ter estabilizado, mas continua sem crescer, apresenta altos níveis de desemprego e enfrenta mais cortes nas despesas do Estado e aumento de impostos. «As pessoas sentem-se frustradas enquanto esperam que os esforços internaconais resultem», frisa Fallon, que vai um pouco mais longe:
«Para além dos limites impostos, a troika impôs uma agenda com intervenção nos serviços de saúde, no estado social e noutras áreas que sugerem a imposição de um modelo sócio-político na Irlanda, ao mesmo tempo que exige o pagamento integral da dívida. Isto está a tornar-se incomportável, pois retira valor ao direito democrático do Governo eleito formatar e decidir as prioridades para a sociedade».
Onde está a luz?
Os cortes nos gastos do Estado são sempre impopulares, mas na Irlanda o que é mais chocante é a diminuição do apoio aos idosos e pessoas com deficiência, para além da educação. «Os cortes nestas áreas chocaram as pessoas», desabafa o analista.
Por outro lado, a chaga do desemprego parece não ter fim, à semelhança do que acontece em Portugal, Grécia e Espanha. «Há dez anos havia praticamente pleno emprego e o país tinha de recorrer à imigração para preencher todos os lugares disponíveis. Desde a crise, 14% das pessoas está agora desempregada e há muito poucas oportunidades de trabalho no país. No entanto, a troika e o Governo têm vindo a cortar no período de subsídio de desemprego, com o argumento de que as pessoas ficam menos tempo inativas. É uma contradição que não faz sentido, pois o mercado fica inundado de desempregados», frisa.
O pedido de ajuda à troika custa 14 mil euros a cada irlandês (homem, mulher ou criança), três vezes mais do que na Islândia, quatro vezes mais do que na Grécia, seis vezes mais do que no Chipre, 23 vezes mais do que cada português tem de pagar, 10 vezes mais do que em Espanha e quase 200 vezes mais do que em Itália.
A Irlanda não é um país de manisfestações, mas as coisas podem mudar rapidamente. «É justo dizer que se não surgirem boas notícias em breve, os irlandeses vão-se fartar. Alguns podem mesmo ir para as ruas, mas outros vão começar a pressionar para a realização de novas eleições, procurando novas alternativas políticas», conclui Johnny Fallon.»
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