sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

LOBOS, OVELHAS E CAPITALISMO

O capitalismo em si, seja ele de estado ou privado,  não é um papão mas uma matriz dos nossos dias. O que está em causa não é o capital, mas o seu uso e a sua não deriva para a usura «sem coração.» 
O seu controlo deve, no entanto e para não recuarmos a tempos de capitalismo selvagem e inumano, ser feito amarrando-o a limites razoáveis. Limites, que permitam a existência de regimes democráticos tão iguais quanto possíveis, na diversidade, no esforço e no empenho, criando sociedades inclusivas e paritárias com responsabilidade social.
A globalização facilitou, no entanto, a busca do lucro por todo o planisfério de um modo mais agressivo obliterando o poder do povo através do estado - a soberania. 
A financeirização mundial está sempre à procura das oportunidades mais rentáveis, para não se tornar «capital morto».
Já todos tínhamos percebido que o ataque colossal às economias sobre pressão, tinha a ver - também - com o abocanhar de empresas apetecíveis nos periféricos. Os «lobos» caçam hoje em manada, sempre à espreita, à frente dos seus monitores coloridos. Os tostões não se jogam nas «múltiplas bolsas», essas são deixadas para a produção, para o denominado transaccionável. Aqui, jogam-se milhões, abocanham-se partes de pecúlios dos novos pobres camponeses urbanos. Com a manipulação como objectivo (ontem mesmo com o regresso de portugal aos mercados, empresa de rating afadigou-se rapidamente em colocar nuvens negras sobre o estado económico da «ovelha portuguesa»), a própria banca «derivou» os seus negócios para oportunidades bem mais lucrativos do que construir bens materiais. A imaterialidade é bem mais lucrativa; o custo de oportunidade faz parte da equação de ganho.
Este ataque colossal faz-nos lembrar o aumento colossal de impostos de um novo profeta de academia. Um paradoxo tanto maior, quanto se professa os ideais da necessidade da assumpção da competitividade, que faz suspeitar por agendas e interesses escondidos, sejam eles internacional - carreiristas, sejam eles motivados por mentes excessivamente brilhantes: «impressionantes!?» é o termo mais adequado e que se presta a duplicidades colossais.
Há na história da economia alemã «uma impressão» bem vincada: uma matriz bem vincada de capitalismo forte e dominador. O interesse de todos não converge, no entanto, quase sempre, com o interesse de poucos.  
Com o crescimento da economia chinesa, os custos emergentes e a sua internalização, o capital financeiro e industrial alemão, agora robustecido por nova acumulação de capital de antigas economias emergentes, volta-se novamente para a periferia. Termos como financeirização ou acumulação de capital parecem provindas de ideários marxistas e de manuais de economia política de estudantes de económicas do passado - podendo mesmo confundir quem as profere. Mas não o são, já que o capitalismo, verdadeiro leitmotiv do povo comum que aspira ao conforto da posse e ao elevador social (que confunde quantas vezes com o material, mesmo quando não abdica do confronto diário passivo da bola e da novela) já há muito os incorporou.
Os custos acrescidos de uma sociedade em enriquecimento e a ascensão de um patronato cada vez mais forte e cada vez menos dependente do investimento externo na China e no denominado Terceiro Mundo do passado, faz com que espaços de terciarização intensiva a ocidente colapsem - para se «oferecerem» como novos espaços de arregimentação de investimento do transaccionável.  
Desse modo, como noutras alturas da história, pressão é feita sobre os custos laborais no sentido de criação de novas migrações de capitais para as periferias menos longínquas dos centros financeiros mundiais. A hora é de contracção de custos nas periferias, neste trade - off entre remuneração do capital e remuneração de trabalho. Alguém (povos inteiros!) vai ter de assegurar novas massas de trabalho a um capital que procura remunerações mais atractivas.
A história do mundo sempre foi construída nessa relação, nessa dicotomia do ser com o ter. O bom senso, no entanto, exige equilíbrio, aquilo a que hoje se chama concertação.

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