«A solidão parece tornar o mundo mais pequeno, mais abstracto, mais interior, mas, também, mais distante. “Os outros” parecem viver nele a danação de não estar só, essa sofreguidão de equívocos onde, tantas vezes, nos sentimos acompanhados, mas não verdadeiramente partilhados. Só a solidão permite (re)descobrir a essencialidade do que se quer partilhar e só passando por ela se poderá deixar de estar verdadeiramente só. A solidão é uma passagem de nós para o outro, desde que não se olhe apenas para nós.»
Quando abdicamos de nós tudo parece mais fácil, nem há tormenta que nos aflija. É assim um estado de despojo, onde nos basta uma amálgama de sopa e um computador. Será que era isto que sentia Oliveira Salazar, quando na simplicidade monástica do seu forte, dedilhando com uma caneta de ponta de ouro e partilhando no silêncio da sua cela uma gamela, aferrolhoava e afastava num cofre as barras de ouro de vil metal do seu povo? O equívoco éramos nós e a essencialidade só ele a podia divisar?Pudesse o outro salvador, o outro S., S. não de salvador mas de Zorro, mascarado de mascarilha, afastar a espuma do seu próprio olhar e a essencialidade do seu povo estaria ali tão perto, à mão de semear!
Sem comentários:
Enviar um comentário