Como o devido beneplácito esta excelente peça vinda do bas-fond da discriminação mais horrenda e anti-democrática.
«A Quadratura do Circo» - Correio do Leitor
Por Pedro Barroso
POR OCASIÃO do debate sobre o casamento homossexual, recebemos aqui, na Redacção do “Quadratura do Circo”, várias cartas a que nos limitamos a dar seguimento para análise de nossos leitores.
“Estou fisicamente apaixonado pela minha irmã. Desde sempre o meu grande sonho é viver maritalmente com ela, no que sou, felizmente, correspondido. Contudo, as leis do nosso país impedem-me de ser feliz. Agradeço que o influente e prestigiado blogue que Vª Exª integra interceda por pessoas com causas semelhantes à minha, pois me parece uma desproporcionalidade o tempo de antena que se tem dado aos homossexuais e o desprezo a que são votados os direitos de tantas pessoas como nós. Obrigado” António da Mana, Amadora
“Além do amor que tenho por minha mulher, com quem casei há dez anos e sou muito feliz, descobrimos ambos, há cerca de dois anos, um novo amor por uma amiga comum que, após algum tempo de namoro connosco, se mudou cá para casa e passámos a vier em trio amoroso. Somos os três mais felizes que nunca e assumimos - tanto em família, como profissional e publicamente - a nossa relação como trio. Achamos indecente que não esteja ser considerado o nosso tipo de preferência sexual como merecedor de também serem autorizados casamentos a três pessoas.” Maria, Mário e Maria, Gondomar
“Sou homossexual desde que me conheço e sinto uma profunda irritação sempre que me falam de casamento, pois a minha escolha sempre foi pelo modo gay e diferente de viver. Gosto da minha casa, decorada por mim e com as minhas coisas nos sítios. Detestava ter um marido no quotidiano com a desarrumação subsequente, as discussões, as peúgas pela casa fora, etc. Por isso tenho os meus amigos que me visitam, e assim, mas no dia seguinte, ala, cada um à sua vida! Escolhi esta sexualidade com muito orgulho na minha diferença; acho que afinal agora querem normalizar tudo como se fossemos familiazinhas hetero, burguesas, normalíssimas, e com filhinhos. Acho horrível e discordo o mais possível. Ser gay é assim mesmo, como eu vivo. Casar e ter filhos é o mais hetero possível. Que horror” Narciso do Ó, Porto
“Tenho um problema grave pois sou uma mulher livre, muito sensual, masoquista assumida e cada vez que tenho uma sessão mais puxada, tenho de evitar recorrer ao Centro de Saúde, onde a Assistente Social, um dia, quis que eu participasse do meu amigo por violência doméstica. Ora há aqui parâmetros completamente errados – sou eu quem deseja essa “violência”, que para mim, representa uma excitação enorme e a minha forma de gostar, tão respeitável como dar beijinhos. Já várias vezes tivemos aqui a Policia à porta, por denúncias do meu médico de família, que continua a não perceber que as marcas que exibo são, para mim, medalhas de prazer. É necessária uma lei urgente que reponha o direito dos masoquistas numa pratica vivida e consensual a não serem incomodados nem enxovalhados pelas suas preferências eróticas, acho eu.” Maria das Dores, Freixo de Espada à Cinta
“Vivo numa relação tribal poliamori de cinco homens e doze mulheres e desejo que legislem urgentemente a legalização do nosso estilo de vida. Fui emigrante no Idaho, estado mórmon dos USA, onde isso é perfeitamente aceite e natural. Apenas precisamos de legislação urgente em Portugal, que nos defina como declarar a situações de paternidade, propriedade, direitos sucessórios etc. tal como os entendemos. Em vez de só pensarem nos gay também deviam pensar em nós.” João Barafunda, Estoril
Nota da Redacção - Recebemos ainda cartas de Mustafa Suleiman Mamede, muçulmano naturalizado português, casado com 7 mulheres; uma mãe de Lisboa, não identificada, de discurso muito confuso e pouco claro sobre o amor maternal; uma Associação de Gordos, com problemas afectos à obesidade, solicitando legislação urgente sobre as dimensões das camas na industria hoteleira; um cidadão chinês que deseja casar com o gato e um adepto do Benfica que deseja que a mulher tenha relações com uma águia que comprou na Turquia e entende que o Estado lhes deve dar um subsídio para Betadine. Até ver, foram estes os cidadãos que se manifestaram chocados com o vazio jurídico e legislativo dos seus casos específicos.
A todos manifestamos a nossa solidariedade.
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