segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CERTEZAS E INCERTEZAS

Do blog SEDES chega-nos a preocupação sob forma de questionamento e reflexão: 

«Certezas

Publicado por Filipe Rocha da Silva a 10:22 em Artigos Gerais
Certamente acho muito preocupante a ambivalência contemporânea mas ainda mais com as CERTEZAS perversas que se vão formando na opinião pública e que frequentemente não são testadas nem questionadas.
Exemplos:
- As disciplinas essenciais no Ensino Secundário: o nosso novo Ministro sabe perfeitamente quais são e quais não são. Essenciais no entanto porquê e para que fim? Corre-se o risco de culpar as disciplinas consideradas não essenciais pela ignorância em matemática, no entanto se calhar o tempo que é gasto em matemática é mal utilizado… É sempre mais fácil e rápido encontrar bodes expiatórios…
- Uma nota do CRUP ( Conselho de Reitores) de 7/06/2011 indica que “em 2010 se verificaram 1600 novos doutoramentos sendo metade na área de ciência e tecnologia”. Em que áreas não científicas e tecnológicas foram os outros? Serão tais áreas de doutoramento exteriores à FCT ( Fundação para a Ciência e Tecnologia)? Serão esta últimas áreas, num momento de crise, fúteis, inúteis ou não essenciais, e portanto devem ser reduzidas?
- Neste próprio fórum de opinião existiu muitas vezes um foco na distinção entre bens transaccionáveis e não transaccionáveis, o que me dá um pouco que pensar. No meu dicionário T. é aquilo que se consegue vender a outros. Há serviços que são facilmente vendáveis, por exemplo no turismo e nas indústrias culturais, e bens industriais que se tornam invendáveis. Compreendo que neste momento é importante que o que se produz em Portugal seja transaccionável, mas este conceito não aponta necessariamente para uns sectores de actividade em prejuízo dos outros. Em todos os sectores há bens T. e bens Não – T.
É importante definir o que significam palavras como essencial, ciência e tecnologia, transaccionável, visto que, como diz Lakoff: “Language always comes with what is called ‘framing’. Every word is defined relative to a conceptual framework.”»

...que exige tradução e permite reflexão.

O que Filipe Rocha quer dizer é que nem tudo foi mal no reino de Portugal. Estes doutoramentos, mesmo que em áreas aparentemente não transaccionáveis são o que de melhor pode acontecer a Portugal. Porque elevam o espírito nacional, reproduzem e alimentam a criatividade, promovem a diferenciação de bens culturais transaccionáveis. Pretender que só a área da ciência merece uma aposta, é esquecer que a ciência precisa em grande medida de tradução na prática e que só há ciência com o devaneio do pensamento (tenho até para mim que o grande problema dos políticos é a falta de tempo de reflexão de qualidade. Menos leis com mais tempo de ponderação e ascultação à massa da sua população traduzir-se-iam num país bem melhor e respirável).
Entretanto, que indústria Portuguesa suporta a nossa investigação? Quanto do nosso investimento em formação vai directo para a produção noutros espaços? Que lugar hoje na interrelação dos conteúdos e das matérias?

Duas resposta vindas de fora: a primeira, a necessidade urgente de Portugal apostar em produtos de valor acrescentado elevado, produtos só possíveis em nichos de mercado e diferenciados. A segunda, a necessidade de Portugal apostar na sua imensa cultura como factor vendável de produtos e serviços.

A aposta na formação, mesmo se cara e muitas vezes aparentemente pouco perceptível (pouco transaccionável?), é um dos melhores argumentos para o futuro. A tecnologia, como diz Filipe R. da Silva, não é o Magalhães, nem o transaccionável o lençol normalizado saído das extintas fábricas do têxtil, ou o inenarrável portal das finanças nos cada vez mais recorrentes casos de cobranças pelas finanças de multas totalmente desproporcionadas com factor 10 de multas e penalidades sobre portagens não passadas ou mal lidas. Esta, sim, a formação essencial, a da cidadania, da proporção, do antiestado que cresce num governo dito liberal, sob pena de brevemente estarmos sitiados por uma mancha antidemocrática e totalitária que estrangula até o mais despreocupado. 


Ah, só acrescentar: foi assim que começaram os governos autocráticos e totalitários. E tocam a todos: aos ditos liberais e até aos socialistas que se tornaram nacional socialistas. No fim da história (e ao interesse humano) só resta a liberdade. E a certeza que até a  linguagem dita de simplificação e liberdade para vencer (liberal)  pode até ser poluída e contraditada pelo framework conceptual.

E é isso que acontece em Portugal actualmente. Queremos mais simplicidade e complicamos, queremos mais liberdade para produzir e criar e penalizamos e esmagamos. Pela constante perda de direitos dos cidadãos contribuintes, pelo cutelo constante de uma máquina que nos destrói e paralisa até o sonho.

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