Avaliar os professores é a mesma coisa que fomentar a escola normalizada, igual para todos, escola do passado de um país com pouco futuro. Avaliar os professores que já foram avaliados para serem professores é a mesma coisa que avaliar políticos que ainda não foram avaliados, escrutínio a quatro anos, mentiras a 1 mês, ou será diferente? Avaliar a escola sem uma verdadeira autonomia? Avaliar a escola pelo seu público eleitor ou pelos seus pares escolhidos de entre inconfessáveis minorias?
Ou não seria preferível avaliar primeiro a escola? Condições materiais, miseráveis, turmas deploráveis em dimensão, condições sociais sofríveis, currículos extensos inadequados e indiferenciados!
Mas será assim em todas as escolas? Não!, não na Escola Moderna, ou no S. João de Brito ou nos Salesianos!
Faz-me lembrar um certo senhor que quer ser timoneiro de um barco maior, quando o seu, frágil, esburacado, pede meças a um carpinteiro naval de cofragens. Começar, começar por cima, acorrentando e disciplinando a chicote os marinheiros, deixando o barco à míngua de condições para navegar! Isto o Portugal, onde todos querem ser comandantes de naus desiguais e exíguas!
1 comentário:
Não estou certo do ponto exacto em que estejamos a discordar, pelo que pergunto: estamos mesmo a discordar?
Adianto alguns pontos a explicar-me um pouco mais e a ver se localizo onde divergimos, se for o caso:
1. É vital para a democracia portuguesa dispor de uma escola pública de qualidade - mais do que qualquer política económica, esse é, a meu ver, o liame que sustém os povos dos abismos sociais que se podem afigurar num horizonte sempre aberto e que simboliza a História por fazer. Creio que tal espécie de escola pública e de qualidade tem tido falta, em Portugal, não tanto de financiamento suplementar, mas de confiança e auto-confiança, o que só pode ser remediado conferindo maior autonomia à gestão escolar e, de maneira decisiva, pela credibilização social dos professores. É preciso que se perceba o seguinte: uma escola pública sem confiança denota uma democracia defensiva, e por isso facilmente reactiva, desconfiada até de si mesma. E há evidentes razões ideológicas no esforço de alguma gente em desmantelar a escola pública. Obviamente, não é esse o meu ponto de vista.
2. Mas surge então a pergunta que nos parece dividir: Como se devolve a confiança à escola pública? De muitas maneiras certamente, mas nenhuma delas terá sucesso se não consagrar um princípio de diferenciação baseado no mérito científico-pedagógico dos professores. Pergunto: não é verdade que, actualmente, tal como as coisas têm estado, é difícil discriminar entre o professor que pouco mais sabe do que um manual que decorou (que os há!) e professores que investiram na sua formação através de mestrados científicos e mesmo doutoramentos? Não estou a dizer que todos devem pôr os olhos num doutoramento. Estou a dizer que fechar os olhos e tapar os ouvidos ao investimento na fomação, fazê-la equivaler de algum modo ou mesmo substituir (o que é bem pior) por “formações pedagógicas” é um erro. Pior que admitir professores que pouco saibam e pouco saibam ensinar, é admitir que os professores que sabem e sabem ensinar não sejam justamente reconhecidos. Não é só por estes, é por toda a sociedade.
3. Agora, e talvez esteja aqui onde possamos encontrar algum acordo… Não são outros (animados de vícios de superioridade) que devem avaliar os professores…devem ser os professores, enquanto corpo profissional, a discutir, escolher e estabelecer (sob iniciativa governamental e devido enquadramento institucional) os meios próprios da sua avaliação. É o que tenho defendido em prol de um classe profissional que quero devolvida ao lugar que deve ocupar, uma classe socialmente respeitada porque, acima de tudo, socialmente formadora.
André Barata
PS: Parabéns pelo Blog
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