quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

JOSÉ ADELINO MALTEZ

«O estrume e caruncho da sucata vão moendo à esquerda e à direita e os pés de cadeira já são checados em sua careca medalhada. A nudez forte da verdade vai rompendo os mantos diáfanos da fantasia, da benção do ex-ministro, e da propaganda. Agora é o traseiro da direita sem segredo nem secreta, com o habitual gesto das Caldas... O uno inefável do estadão vai-se propagando em sucessivas emanações de falta de autenticidade, e os alargados círculos concêntricos da hierarquia neofeudal vão queimando estas sucessivas sociedades da corte da golpada, onde o crime sempre compensou. Os que estão em baixo começam a perder a protecção de quem está em cima. Ter poder em Portugal é ter capacidade para federar receptores de cheques de avenças e consultadorias, nessa distribuição de recursos por via hierárquica, onde a massa é directamente proporcional às falsas honrarias e comendas que os chefes do bando vão emitindo em nome de nós todos, para que todos continuem a pagar apenas a alguns... Nesta quinta de animais decadentes, se somos todos iguais, há alguns que são mais iguais do que outros, sobretudo os que pertencem à classe dos porcos triunfantes, onde Corte (do latim "Cohors") tem a mesma origem etimológica dessa fábrica de estrume chamada córte, a de nossas velhas aldeias, onde os suínos iam guinchando...»

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