A história da economia portuguesa nestes últimos 30 anos tem-se caracterizado por um incessante tapar e abrir buracos, um remendar contínuo do ‘telhado’, do que é mais visível (os défices externos, numa primeira fase, com o FMI, e, mais recentemente, com o PEC, os défices orçamentais) sem se cuidar de forma capaz do estado das ‘fundações’ (educação/formação e capacidade de inovação do país).
As debilidades estruturais do nosso país têm se tornado mais visíveis na medida em que fomos perdendo algumas das nossas ‘melhores’ (e mais enganadoras) ‘muletas’, designadamente, as desvalorizações artificiais do escudo na década de 80 e as entradas massivas de fundos estruturais europeus, que suportaram,em grande parte, avultados investimentos públicos relativamente aos quais se confundiu frequentemente custos com benefícios e que contribuíram de forma não negligenciável para uma re-afectação interna dos recursos dos sectores dos bens transaccionáveis internacionalmente (indústria em geral) para os sectores dos bens não transaccionáveis(construção, restaurantes, serviços pessoais e de lazer) levando os primeiros, sujeitos à concorrência externa, a definhar e com eles o escalar da nosso défice externo.
A resolução do défice externo e da competitividade passa, em grande medida, por uma reorientação de recursos no sentido dos sectores dos bens transaccionáveis, o que implica, face à crescente globalização, maiores níveis de produtividade que compensem e suportem os necessários e socialmente exigíveis aumentos salariais. Atingir maiores níveis de produtividade e, portanto, de competitividade, requer recursos humanos bem apetrechados em termos de habilitações e qualificações que constituam uma base sólida da capacidade de absorção de inovação e da capacidade de produção de inovação de uma nação (via, designadamente, investimentos em Investigação e Desenvolvimento – I&D). Estes recursos humanos e a associada capacidade de inovação gerarão ganhos de eficiência, ganhos em termos de diferenciação e produção de bens completamente novos e tecnologicamente avançados, permitindo exportar mais (em valor) e potenciando ciclos virtuosos de maior produtividade-melhores salários-mais crescimento.
Os resultados obtidos num artigo publicado recentemente por duas investigadoras da FEP (Universidade do Porto) 1 não deixam margem para dúvidas: o capital humano tem um efeito directo muito substancial sobre a produtividade da economia portuguesa; adicionalmente, os esforços de I&D das empresas, quando interligados com as importações de máquinas e equipamentos, emergem como um factor ainda mais crítico para essa mesma produtividade. A importação de máquinas e equipamentos é, no caso português, o ‘motor’ do crescimento, tendo como ‘combustível’ chave os esforços das empresas em I&D. Assim, não se trata aqui de uma mera adopção passiva de tecnologia externa, mas antes de uma absorção activa, via esforços internos em I&D, do que de mais avançado (em termos tecnológicos) se faz no exterior. As autoras provam, de forma inequívoca, que para Portugal ser competitivo é fundamental tratar-se das ‘fundações’ da economia: capital humano e I&D.
Notas:
1. Aurora A.C. Teixeira e Natércia Fortuna (2010) “Human capital, R&D, trade, and long-run productivity. Testing the technological absorption hypothesis for the Portuguese economy, 1960-2001”, Research Policy, 39(3): 335-350.»
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