domingo, 7 de março de 2010

O NOSSO EMBAIXADOR, A HIPOCRISIA INTERNACIONAL E OS GENES HUMANOS

Para quem pensa ou pensou que as relações e a solidariedade internacionais ganharam uma nova dimensão com a conquista das integrações dos novos aliados, como é exemplo a União Europeia, é porque não leu esta brilhante peça de Seixas da Costa que se transcreve com a devida vénia.

E é por isso que a Real Politik que se mede no músculo dos povos, exige dos Portugueses  a assumpção da sua própria centralidade, face a todo o eixo Atlântico e a todos os povos e lugares tocados pela nossa diáspora. Como bem alertou ultimamente Cavaco Silva e para que não vejamos no futuro o nosso território eivado daqueles enormes memoriais a jovens Europeus que pululam os campos da Normandia.

Franqueza

A linguagem diplomática internacional tem alguns códigos que importa conhecer, para melhor se entender o que pode estar por detrás de algumas declarações públicas.

Uma dos conceitos-chave em que convém atentar é a eufemística "franqueza". Se acaso se depararem em algum comunicado, relarando um encontro internacional, a nota de que, durante uma reunião, houve um "debate franco" ou uma "franca exposição de posições", podem ficar cientes de que o ambiente foi tenso, confrontacional, muito duro e sem cedência de posições.

Não se pense que esta realidade se restringe a negociações a níveis técnicos. Muitas vezes, em discussões políticas a nível ministerial, ou mesmo primo-ministerial, as tensões sobem a patamares impensáveis. Mesmo entre aliados. Por exemplo, dentro da União Europeia, para quem não saiba.

Numa noite, no auge de um processo negocial complexo, o deputado europeu democrata-cristão Elmar Brok e eu estávamos no bar de um hotel quando vimos passar um responsável político europeu, saído de um jantar "informal" com os seus pares. A nossa curiosidade sobre esse jantar era grande, porque, do resultado dessa discussão que nela deveria ter tido lugar, poderiam depender algumas importantes decisões no dia seguinte.

Pela cara carregada dessa figura política, depreendemos que o debate havia sido tenso. Não imaginávamos, contudo, quanto o fora. Convidámo-lo a sentar-se, desejosos de saciar a nossa curiosidade. Disse-nos que necessitava de um "Armagnac" duplo para se recompor. Nunca lhe fora dado assistir a uma discussão tão divisiva dentro da União Europeia. Ao que nos contou, e perante um comentário que ele próprio fizera, recebera de um seu par, de uma grande potência europeia, a "elegante" reação: "A tua opinião sobre isso não interessa. Se voltasse a haver uma guerra na Europa, o teu país quase não teria tamanho para sepultar todos os mortos dessa guerra". Não recordo a resposta que ele teria dado a essa provocação, talvez porque eu me tivesse fixado obsessivamente nesta chocante frase.

Lembrei-me ontem da questão da "franqueza", ao ler a dura e justa frase com que o primeiro-ministro grego, Georgios Papandreou, respondeu a bem lamentáveis comentários surgidos na imprensa alemã, a propósito da corrupção no seu país, realidade que não enjeita mas que se recusa - e muito bem! - a assumir como identitária do seu país: "os gregos não têm a corrupção nos seus genes, da mesma maneira que os alemães não têm o nazismo nos seus".

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