segunda-feira, 18 de outubro de 2010

UMA FAMÍLIA PORTUGUESA

«António Petronilho, 58 anos, professor de Português e História, acomoda-se no cadeirão da sala comum e questiona aquilo que considera ainda pior no ambiente de crise: "O desemprego: que alcance terá no futuro próximo?". Mas falámos primeiro nos cortes salariais que são a prioridade entre as preocupações: no caso de António são 190 euros, correspondentes a 6,91% do salário mensal.
E à pergunta "onde irão cortar na despesa familiar" os Petronilho lêem uma lista de decisões que partilharam com a reportagem do Diário Económico: deixar de viajar por auto-estradas, andar preferencialmente a pé, almoçar e jantar fora menos vezes, fazer férias em Portugal, reduzir na Internet de banda larga e na compra de jornais, comprar menos roupa e mais produtos de marcas brancas, ir menos ao cinema e teatro, ser mais selectivo nos livros (didácticos e de ficção) e frequentar apenas acções de formação não pagas (os professores são obrigados a ter 25 horas anuais de formação).
Mas há mais na lista de cortes desta família: desistir da empregada doméstica que iria ser contratada, investir em luzes de poupança de energia, evitar manter electrodomésticos na posição ‘stand by' e reduzir ou mesmo deixar de ter poupanças. "Já me alertaram que os PPR [Plano Poupança Reforma] vão deixar de ser fiáveis", justifica António Petronilho. Numa família de "chapa ganha, chapa gasta", quase 100% do orçamento é investido nas despesas mensais. E a expectativa, como a de tantas outras famílias, orienta-se agora também para as dúvidas sobre a aprovação do Orçamento do Estado. "Acho que será aprovado, devido à enorme pressão, mas deveria ser com uma declaração de protesto para não permitir estratégias de vitimização", defende António.
Regressando, é nos cortes de salários e na perda de poder de compra que esta família se concentra agora. Mas os dois professores dizem que os cortes não foram ainda suficientes para desmotivar. "Ainda não me sinto desmotivado, mas por vezes já não há meios para fazer o que nos é pedido", lamenta António Petronilho.
A conversa está a chegar ao fim, marcada pela preocupação com o tema ainda mais específico da vida na escola. Felisbela concorda com o marido na manutenção do gosto em dar aulas: "É do que mais gosto, porque das burocracias escolares estou farta. Detesto". E a fechar, enquanto o Mimi se espreguiça antecipando a saída dos donos da sala, um último lamento sobre uma dicotomia grave na escola: "A desigualdade tem-se acentuado e a selecção está a fazer-se cada vez mais entre alunos que têm pais esclarecidos e com dinheiro e os restantes". "Uma pena", sentencia Felisbela Petronilho antes da despedida que antecede um enorme corte salarial.»
Quando olhamos para o efeito - de corte - do orçamento nesta família da classe média, com rendimentos mesmo assim muito superiores à classe média baixa, percebemos o que o despesismo no Estado com os aparelhos ocasiona: um país com mais desemprego, um  país com menos literacia, uma país com uma comunicação social escrita cada vez menos independente e a afundar-se ainda mais, um país com menos cultura, um país mais infeliz e desigual.

Este o efeito real de 6 anos Sócrates na economia Portuguesa! Tudo o resto são cantigas!

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