quarta-feira, 1 de outubro de 2008

GRADUADOS ABANDONAM PORTUGAL


De França a Angola, de Espanha à Suíça, da Inglaterra à Irlanda, uma nova vaga de emigração, emigração agora graduada e qualificada, testemunha a ingratidão da mãe terra para com os seus naturais, ao mesmo tempo que outras vagas de emigrantes de ex-Palops e emigrantes de Leste, agora em menor número, a maioria indiferenciados, assolam o País de Norte a Sul.

Estranho destino para um País com uma baixa taxa de crescimento natural , a necessitar de verdadeiras políticas demográficas activas, a roçar o nulo. Tema dos menos debatidos na sociedade Portuguesa a demografia coloca-nos a todos, como comunidade, as maiores interrogações sobre o futuro.

Testemunho dessa emigração, «Graduados abandonam Portugal», «João Raminhos, Enfermeiro. Moutier, Suíça. O seu testemunho é a imagem de um País a desperdiçar e a esbanjar recursos, voltando mais uma vez as costas, aos seus melhores:

Durante toda a minha vida jamais pensei ser emigrante, muito menos nestes últimos 4 anos em que tirei o curso e que em que já me via a trabalhar num hospital perto de casa! Contudo, com o curso concluído e com a situação vergonhosa da Enfermagem em Portugal, as minhas esperanças de encontrar um posto de trabalho, saíam semana após semana frustradas. Um dia e em jeito de brincadeira, um colega de curso questionou-me o porquê de não irmos trabalhar para a Suíça. Essa possibilidade ficou a pairar sobre as nossas cabeças, e uns tempos mais tarde numa mistura de férias e de ter uma ideia de como as coisas são, viemos até cá.

Uma vez cá, e através de conhecimentos de enfermeiros portugueses que já cá estão há mais tempo, fomos até uma agência de emprego. O curioso disto é que nem eu nem esse meu colega falávamos francês (já que estou na parte francesa), pelo que utilizamos o inglês para entregarmos os nossos currículos e explicarmos o nosso interesse em para cá vir. Da parte da agência disseram-nos para voltarmos para Portugal e aprendermos francês, que da parte deles iam-nos arranjar emprego.

Passado um mês, e depois de termos frequentado umas aulas de francês e de relembrarmos tudo aquilo que damos na escola, a dita agência contactou-nos a informar que tinha encontrado lugares para trabalhar, num hospital numa cidade que nem sabia onde ficava!As malas foram feitas, os bilhetes comprados, as despedidas feitas e lá estávamos nós a partir rumo ao desconhecido. Coincidência ou não, poucos dias antes de vir embora foi-me oferecido um lugar no serviço e no hospital que queria, mas que recusei…Os primeiros dias, foram um bocado a apanhar do ar: falavam muito rápido, não se conhecia ninguém, rotinas diferentes, tempo frio, e todo um outro mundo a descobrir… Mas foi rápido a apanhar o ritmo, e a integração foi boa. Nunca me senti alvo de discriminação ou intolerância, antes pelo contrário sempre me ajudaram. Estou cá quase há um ano, e estou bem.

Tenho um contrato de trabalho a termo indeterminado (algo quase impensável em Portugal); apesar de ter mais de horas semanais (42 horas) trabalho menos; o salário é 2,5 vezes maior; a cidade onde moro é tranquila e com boas conexões aos principais centro urbanos suíços; conheço gente de muitos outros países e outras culturas; farto-me de passear e de descobrir sítios novos.

Entretanto e por razões pessoais, o colega que veio comigo regressou a Portugal. Mas, como a falta de pessoal qualificado a nível de saúde é elevado, outros colegas para cá vieram e aos poucos a comunidade portuguesa vai aumentando no hospital onde trabalho. Parece anedótico, mas muitos mais podem para cá vir, ninguém se mostra é interessado! Saudades de casa a bem dizer não sinto! Hoje em dia já ninguém espera pelo carteiro para saber notícias de família e amigos. E de avião são apenas 2.30h até Lisboa. Vir para cá foi a melhor coisa que podia ter feito!»

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