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"Lá vem a Nau Catrineta,
que tem muito que contar!
Ouvi - de, agora, senhores,
Uma história de pasmar."
Passava mais de três anos,
que iam na volta do mar.
Já não tinham que oferecer,
nem tão pouco que manjar.
Já abafaram o seu galo,
que tinham para cantar.
Já calaram o seu cão,
que tinham de intimidar.
Já não tinham que sacar,
nem tão pouco que oferecer.
Deitaram taxas em molho,
para logo outro dia morfar.
Mas a sola estava tão podre,
que a não puderam tragar.
Deitaram sortes ao fundo,
qual se havia de matar.
Logo a sorte foi cair
no fogoso general.
-"Sobe, sobe, povinho,
àquele mastro real,
vê se vês terras de Chávez,
Khadafi ou Eduardinho,
ou praias de Portugal."
- "Não vejo as riquezas
de Espanha, o Allgarve,
ou os Jardim de Portugal.
Vejo sete afiadas línguas,
que te querem fazer zarpar."
- "Acima, acima, gajeiro,
acima ao Cavaco real!
Olha se vês minhas terras,
ou reinos de Portugal."
- "Alvíssaras, senhor alvíssaras,
meu distante general!
Que eu já vejo
tuas martirizadas terras,
antigos reinos de Portugal.
Se não nos faltar o bom senso,
a terra iremos papar.
Lá vejo muitas torneiras,
financeiros a lavar;
vejo muito forno aceso,
de gente a se queimar,
padeiras a padejar,
e vejo muitos açougues,
e empregos a terminar.
Também vejo três meninas,
debaixo de um laranjal.
Uma sentada a esperar,
outra de roca a bater,
A mais formosa de todas,
ainda está no meio a crescer.
- "Todas três são minhas filhas,
Oh! quem mas dera abraçar!
a mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar."
- "A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar.
Que eu tenho mulher em França,
filhinhos de sustentar.
Quero a Nau Catrineta,
para nela navegar."
- "A Nau Catrineta, amigo,
essa eu não te posso dar;
assim que chegar a terra,
logo ela vai a votos queimar.
- "Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual."
- "Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a domar."
- "Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar"
- "Não quero o vosso dinheiro
Pois vos custou a ganhar.
Quero a Nau Catrineta,
para nela navegar.
Que assim como escapou desta,
doutra sempre há-de escapar"
Lá vai a Nau Catrineta,
leva muito por quem enganar.
Estava a noite a cair,
e ela em terra a mofar.
@ 2008, causavossa
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