Conheci o Miguel Esteves Cardoso, téte à téte, nada mais, entre um croissant gelatinoso e um livro de antropologia, na cantina da Nova à Av. de Berna. Quando o conheci estava rodeado de jovens fêmeas, num acto de charme libidinoso de engate de escritor consagrado e de professor laureado... ou terá sido o contrário? Achei-lhe graça e resolvi conhecê-lo melhor, comprei-lhe os livros todos.
Durante uns anos Miguel, o escritor, a pessoa, desapareceu das estantes. Conheci-lhe mais tarde as histórias e os tormentos, num daqueles semanários cor-de-rosa de consultório que nos enche de bâton por todos os lados. Ontem conheci-o novamente e reparto-o aqui com os meus amigos em apoio ao Miguel, à sua mulher Maria João e ao IPO, uma parte daquele Estado que merece de nós uma palavra de gratidão.
“O IPO consegue ser uma segunda casa. Nenhum outro hospital consegue ser isso. Podem ser hospitais muito bons. Mas não são como uma casa. O IPO é. Há uma alegria, um humor, uma dedicação e uma solidariedade, bem-educada e generosa, que não poderiam ser mais diferentes da nossa atitude e maneira de ser - resignada, fatalista e piegas - que são o default institucional da nacionalidade portuguesa. É graxa? Para que tratem bem a Maria João? Talvez seja. Mas é merecida. Até porque toda a gente que os três IPO de Portugal tratam é tratada como se tivesse direito a todas as regalias. Há muitos elogios que, não obstante serem feitos para nos beneficiarem, não deixam de ser absolutamente justos e justificados.
Este é um deles. Eu estou aqui ao pé de ti. Como tu estás ao pé de mim. Chorar em público é como pedir que nada de mau nos aconteça. É uma sorte. É o contrário do luto. Volta para mim.»
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